terça-feira, dezembro 11, 2007

Sugestão de leitura

Quando o centro vira à esquerda, artigo de Pedro Adão e Silva na edição de hoje do Diário Económico:

    «Quer seja um democrata ou um republicano a tomar posse como presidente em 2009, o centro de gravidade da política nos EUA encontrar-se-á bem mais à esquerda do que estava há uma década. O contributo de George W. Bush para esta mudança é negligenciável. Afinal, ela é resultado de mudanças políticas e económicas de longo prazo, que afectam todos os países desenvolvidos. Assim começa um artigo recente do publicista norte-americano Michael Lind no “Financial Times” (…).

    O primeiro ciclo longo vai de 1932 até 1968 e caracterizou-se pelo apelo político dos mecanismos de regulação estatais e pelo papel quase incontestado do Estado Providência. Durante este período, o liberalismo económico encontrava-se numa posição fragilizada e, à direita do espectro político, só foram competitivos os conservadores defensores do papel do Estado (por exemplo, Eisenhower nos EUA e os democrata-cristãos na Europa). O centro de gravidade da política estava à esquerda.

    O segundo ciclo longo vai de 1968 até 2004 e caracterizou-se por uma viragem à direita, na qual o intervencionismo estatal na economia regrediu e a liberalização dos mercados passou a ser vista como a panaceia para todos os problemas da economia e da sociedade. Durante este período, o centro de gravidade da política estava à direita e mesmo os partidos de esquerda adoptaram políticas neo-liberais – sendo que os eleitoralmente mais competitivos foram aqueles que se colocaram debaixo da etiqueta “terceira-via”.

    Acontece que este ciclo chegou ao fim e as duas grandes tendências agora dominantes são o colapso do neo-liberalismo como força política e a ascensão do proteccionismo económico. É neste contexto que, ainda de acordo com Lind, o que antes era a esquerda – a defesa do Estado Providência num contexto de economia de mercado – é de novo o centro. Esta tendência surge, aparentemente, como a melhor forma das democracias ocidentais resistirem simultaneamente ao proteccionismo populista (uma ameaça que chega de vários quadrantes políticos) e ao neo-liberalismo desregulador.»

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