segunda-feira, abril 28, 2008

Aterosclerose (hipótese benigna)

Há duas semanas, António Barreto divagou longamente no Público acerca de uma carta atribuída a Rosa Coutinho, na qual o Yul Brynner do PREC aconselhava Agostinho Neto a comer criancinhas (brancas) ao pequeno-almoço. A carta, reproduzida em fac-simile num livro editado algures, havia sido encontrada, em 1975, na África do Sul do apartheid.

Barreto chamou-lhe um figo. Nem por um momento lhe passou pela cachimónia que pudesse tratar-se de uma provocação. Nem por um momento suspeitou que o mais elementar bom senso aconselharia a que tais “sugestões” não fossem feitas por escrito e, muito menos, aparecessem, como por encanto, em mãos amigas ligadas ao apartheid e a sectores do colonialismo em decomposição.

Atirada a pedra, Barreto escondeu a mão. A blogosfera insurgiu-se e o colunista do Público assobiou para o lado. A situação complicou-se quando o provedor dos leitores do Público foi inundado de protestos.

Então, António Barreto aproveita um desmentido formal de Rosa Coutinho à Visão para, com a mesma ligeireza com que atirou a pedra, escrever ontem no Público: “Lamento ter utilizado como argumento esse documento apócrifo. As minhas desculpas ao senhor Almirante e aos leitores.” É isto uma postura séria?

8 comentários :

Anónimo disse...

Arterioesclerose e jacarandás...

aviador disse...

Mas ainda está por esclarecer o verddeiro papel do director.
Leram o que ele disse ao Provedor?
Já sabia que a carta era falsa.
Por isso omitiu essa facto na recensão que fez para o Ypsilon do famigerado livro.
E parece que tudo isto se passou antes de Barreto escrever.
E logo nesse dia o inefável Fernandes não estava no jornal.

Anónimo disse...

A carta é falsa? Horror!
Mas já Salazar dizia que em política o que parece é.Portanto face aos resultados do processo do sr almirante em angola e ás centenas de milhar de mortos seguintes será que o incomodará uma acusação destas?

A.Teixeira disse...

Não é o pedido de desculpas que eu esperaria, mas convém fazer alguma distinção - que neste poste tenho dificuldade em encontrar - entre um pedido de desculpas aquém das expectativas e nenhum pedido de desculpas - que, infelizmente, é a atitude mais comum...

A não ser que se considerem equivalentes as duas atitudes - o pouco e o nada - mas, nesse caso, seria a minha vez de devolver a pergunta final: é isso uma postura séria?

Miguel Abrantes disse...

Caro A. Teixeira:


O “pedido de desculpas” de António Barreto é apenas uma forma de se desembaraçar de uma conduta inqualificável. Depois de se prestar a ser veículo de uma acusação monstruosa, chega um desmentido formal por parte do visado para se retractar? Estava Barreto à espera que Rosa Coutinho confirmasse a veracidade da carta? Não era devido aos leitores que explicasse como fora tão facilmente induzido em “erro”?

Barreto sai-se muito mal desta história.

Anónimo disse...

este facto deixa a credibilidade de Barreto em causa. Quantas vezes é que Barreto fez as suas análises com base em premissas falsas? Que há leviandade nesta atitude não tenho qualquer dúvida

A.Teixeira disse...

Caro Miguel Abrantes:

Concordo inteiramente consigo que António Barreto se sai muito mal desta história.

Concordará comigo se eu disser que se teria saído pior se não tivesse dito nada?
Ou discorda e acha que ele se saíu igualmente mal e de nada adiantaram as suas explicações?

Miguel Abrantes disse...

Caro A. Teixeira:

Concordo consigo que é melhor que António Barreto tenha pedido desculpa. Só não me parece que esse pedido de desculpas tenha sido acompanhado de uma explicação para tão relevante “erro”. Quando pergunta se “nada adiantaram as suas explicações?”, o ponto é esse: ele pediu desculpa “em seco”, mas não justificou a falha.

Assim sendo, António Barreto parece ter apenas procurado desembaraçar-se de um fardo que estava a tornar-se demasiado pesado.

Aliás, repare que a suposta carta de Rosa Coutinho é a âncora do artigo que Barreto publicou; no entanto, no pedido desculpa, Barreto tenta desvalorizar a importância que dera à carta, como se de um pormenor se tratasse no contexto do artigo: “uma carta que citei” (ou coisa parecida, que não me apetece reler o artigo de Barreto).