quinta-feira, abril 17, 2008

Revisão da matéria dada [2]




    «As notícias sobre as grandes cedências do Ministério da Educação aos sindicatos de professores correm o risco de terem sido muito exageradas. Menezes, Portas, alguns comentadores e blogues vieram logo dizer que o verdadeiro ministro da Educação era Mário Nogueira da Fenprof e que Maria de Lurdes Rodrigues era a "ex-ministra". Depois veio Mário Nogueira, cinco segundos depois, ainda o acordo estava fresco, falar da "grande vitória", não fossem as pessoas aperceber-se de alguma coisa bizarra e perceber que a avaliação afinal continuava mais ou menos como estava.

    (...) Ora, homem sensato desconfia quando há tanta pressa de correr para a televisão a dizer que se ganhou e ainda por cima em grande. Homem sensato sabe como funcionam o PCP e os sindicatos, sabe como eles estavam num beco sem saída criado pela sua própria vitória. Depois de contribuírem para a gigantesca manifestação sabiam que não podiam dar continuidade à "luta" com uma greve e tinham que recuar. Homem sensato sabe que, por muito sucesso que a luta dos professores tenha tido, e teve, a seguir à manifestação viria um refluxo¹, como veio. Sabe o homem sensato e sabem melhor do que ele os sindicalistas profissionais. Homem sensato e com memória já viu muitas vezes como, para os comunistas e os seus sindicalistas, o mais importante não são os anéis, são os dedos. (...) Um precisava de parecer que ganhava e o outro de parecer que cedia. Foi por isso que, de repente, se chegou a um acordo que, pelos vistos, os "professores", citados pelos jornais, entendem como uma derrota e não como a "grande vitória". Percebe-se porquê: os professores que se manifestavam não queriam, na sua esmagadora maioria, nenhuma avaliação de desempenho, e vai continuar a haver avaliação. Eles sabem disso, os sindicatos sabem disso, a ministra sabe disso, o resto é coreografia.»
      José Pacheco Pereira, A lógica dos sindicatos e a lógica dos professores (na Sábado)
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¹ É evidente que a Fenfrop, empurrando os professores para um beco sem saída, dados os objectivos inconsistentes que propôs , não teria outra saída. Mas a referência ao “refluxo” é uma reminiscência “m-l” (até nas vésperas do 25 de Abril, as lutas dos trabalhadores estavam e continuariam a estar em “refluxo”, sustentavam os grupos que Pacheco Pereira conhece bem).

2 comentários :

Anónimo disse...

Bem analisado.Sempre fui a favor da avaliação.
Mas não posso deixar de afirmar que, mario nogueira, acabou por levar os professores para o curral, de forma premeditada e conivente com os interesses dos comunistas.

Ele não foi derrotado,quem foram derrotados foram todos aqueles que se deixaram ir no conto do vagario.

Chegados ao final, verificamos que se há uma vitória ela é, do Ministerio da Educação, porque consegue levar avante o seu projecto inicial.

Anónimo disse...

Não me parece que os professores fossem contra avaliação. Penso que o que estava em causa era o tempo e a forma. A ministra, quer queiram quer não, acabou por, em parte, ceder. Pelo menos o ministério da educação percebeu que era importante não hostilizar os professores. Para bem de todos. A ministra, e a sua equipa, demonstraram pouca habilidade. Pelo caminho criaram o herói Mário Nogueira. Pode ser que a Dra. Lurdes tenha aprendido com os erros. Mais vale tarde que...