domingo, agosto 31, 2008

Leituras

• Fernanda Palma, História da criminalidade:
    “O salazarismo transfigurou a violência da sociedade em violência do Estado. Desde então, os crimes contra o património (e, durante a ditadura, os crimes contra a ordem pública) passaram a dominar as estatísticas, superando o homicídio e os demais crimes violentos. Mas ainda em 1994 se registava mais de 400 homicídios dolosos por ano (mais de um por dia) e até 2000 o número não desceu abaixo de 300. Até 2004 o número excedeu sempre 200, começando, nos anos seguintes, a situar-se em menos de 200 — tendência que hoje persiste.

    A variação estatística do homicídio entre os últimos anos do século XX e o início deste século exige o estudo das motivações e da taxa de sucesso da polícia. Nestes anos, deflagraram crimes hediondos como o homicídio de uma jovem no caso ‘Multibanco’, o assassinato de uma família inteira em Ourém num outro Agosto (para roubar e comprar uma bateria) ou o crime da ‘Mea Culpa’ (associado à luta pelo território da noite), sem esquecer os assaltos violentíssimos de um certo bando em terras algarvias.

    Todavia, o crime em períodos anteriores interessava mais à Imprensa especializada, desprezada pelas elites. As ameaças terroristas suscitaram uma situação de insegurança mundial. A corrupção, o branqueamento e os tráficos tornaram--se temas políticos por excelência. Também os maus tratos e a violência doméstica aumentaram a partir do momento em que a lei os tornou públicos (não dependentes de queixa) em 1998, alterando a natureza que lhes fora ainda atribuída em 1995. Mas os homicídios de todo o género e os roubos violentos, incluindo o ‘esticão’, foram persistindo.”

1 comentário :

Anónimo disse...

Caro Miguel Abrantes
Até há bem pouco tempo, éramos uma sociedade rural com significativa violência. Quem trabalhou nas décadas de 70 e 80 no centro e norte do país pôde bem testemunhar essa violência. Mas é bom que se diga que as estatísticas dos anos 90 sobre homicídios dolosos não pode ser levada a sério. Esses números foram inflacionados com o "acréscimo" de suicídios, táctica de polícias e magistrados para valorizarem as suas taxas de esclarecimento investigativo.Portugal não teve, nem tem, uma análise sistemática e científica da sua criminalidade. O que sempre tivémos: bitaites, bitaites agora ampliados pelo Correio da Manhã. E nessa matéria, nestes três anos, o governo pouco fez. Também ele foi na onda dos bitaites.