sexta-feira, novembro 21, 2008

Leituras


• Daniel Amaral, As obras públicas:
    “Comparemo-nos com a área do euro, que é o que parece mais lógico, e observemos os gráficos abaixo. Portugal, que já chegou a investir 27-28% do PIB, tem vindo a reduzir esse contributo e está hoje na casa dos 22%. Já a Europa tem estado quase sempre a subir e ainda hoje não passa dos 21%. Mas o investimento português repercute-se mal na riqueza criada, que é sempre inferior. Hipótese mais provável: o nosso multiplicador médio é mau.

    Eis um tema que daria um debate muito interessante: por que é que, investindo mais, crescemos menos do que os nossos parceiros europeus? Mas disto falamos pouco. Preferimos zurzir no investimento público, uns meros 10% do total. Gastos megalómanos – sugere a líder do PSD. Talvez. Deixo aqui os números, face ao PIB: com Durão Barroso, em 2002/04 – 3,2%; com Sócrates, em 2005/08 – 2,4%. Para quem não se lembra, a ministra das Finanças de Barroso chamava-se Manuela Ferreira Leite.

    Sejamos sérios. O consumo está em baixo, com tanta crise. O investimento privado estagnou, à míngua de confiança. E as exportações caíram a pique, porque não há mercado comprador. Resultado: de todos os motores que sustentam a economia, o único que podemos accionar é o investimento público. Por que razão ele é tão atacado? Não será óbvio que estamos a investir de menos, não de mais?

    Com isto chegamos aos investimentos estratégicos, que só por si definem uma geração: as auto-estradas, as barragens, os aeroportos, o TGV. Como se sabe, todos estes investimentos foram discutidos, analisados, ponderados e aprovados por toda a gente, ao longo de várias décadas. Como é que iríamos agora parar tudo a pretexto de uma crise, quando as crises são cíclicas? Não acham que parar por esta razão seria parar indefinidamente? A solução para as crises é o imobilismo?

    Dizem-me que investir aqui significa não investir noutros projectos, porque os recursos são escassos. Que grande novidade! Optar por uma solução em vez de outra não é o que fazemos todos, todos os dias? Onde estão alternativas melhores? Entendamo-nos: as barragens são indiscutíveis, o aeroporto de Lisboa é inatacável e a linha Lisboa-Madrid envolve compromissos de Estado que devemos respeitar. O resto são trocos. Parar tudo? Por causa da crise? Perdoai-lhes, Senhor, que eles não sabem o que dizem…”
• Leonel Moura, Suspender a democracia:
    “Nas mais recentes declarações, a propósito da chatice que é a democracia, Ferreira Leite levanta uma questão bem diferente e muito mais decisiva para o que está em causa no cenário político actual. Estamos a falar de alguém que se propõe concorrer ao cargo de primeiro-ministro e formar o próximo Governo. Ora, Ferreira Leite vem agora dizer, de forma frontal e bastante peremptória, que, enquanto vigorar o sistema democrático, ela não será capaz de realizar nenhuma reforma, ou seja, que, caso venha a ser eleita, não vai fazer nada. E isso é todo um programa eleitoral.”

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