O PSD e a avaliação dos professores

Manuela Ferreira Leite renegou, na sexta-feira, tudo o que dissera há poucos meses sobre a avaliação dos professores — a ponto de ter afirmado nessa altura que não perdoaria a Sócrates qualquer recuo.

Mas convém ver de perto a amplitude do flic-flac da Dr.ª Manuela:

1. O SIADAP, o modelo de avaliação dos funcionários públicos, foi criado precisamente por Manuela Ferreira Leite, quando era ministra de Estado e das Finanças de Durão Barroso e tinha a seu cargo o pelouro da Administração Pública.

O modelo de avaliação dos professores segue o modelo definido no SIADAP, com uma diferença de peso: está extremamente simplificado. Como é que Ferreira Leite não viu no SIADAP nenhuma “carga burocrática” e descobre isso agora no modelo de avaliação dos professores?

2. A criação de quotas na avaliação foi uma hipótese colocada no tempo de Cavaco e aprovada no SIADAP de Ferreira Leite. Como pode aparecer agora a mesma Ferreira Leite a sustentar a eliminação das quotas para “procurar a efectiva valorização do mérito e da excelência”? Bem, até o Prof. Marcelo se viu forçado a recordar esta noite à líder do PSD que “ela [Ferreira Leite] é líder do PSD e não do PC nem do BE”.

3. No auge de uma intervenção digna do melhor Menezes, Ferreira Leite veio propor que “a avaliação tem de ser externa”, coelho tirado da cartola que deixa rendido Medeiros Ferreira. Os professores preferem ser avaliados por gente estranha à escola do que serem pelos seus pares? Ferreira Leite parou para pensar no que custaria ao erário público a avaliação de 150 mil professores por uma entidade privada?

Numa palavra, Manuela Ferreira Leite desenterrou e fez suas as propostas de Luís Filipe Menezes após a célebre visita à sede da Fenprof. Com uma diferença: enquanto Menezes queria a suspensão da avaliação para a confiar a uma entidade externa, a actual líder do PSD quer tudo isso e ainda a revogação das quotas.

Resta a consolação de que a passagem de Manuela Ferreira Leite pelo Ministério da Educação ficou na história como um período em que os professores não foram avaliados, as aulas começaram tarde e a más horas por atrasos na colocação de professores e as ruas estiveram ocupadas em permanência pela “geração rasca”.