quarta-feira, janeiro 07, 2009

Leituras

• João Carlos Barradas, Nada de bom em Gaza:
    “A questão política de criação de um estado palestiniano viável e fora da órbita islamita não terá solução sem o desmantelamento da maior parte dos colonatos israelitas na Cisjordânia, a partilha de Jerusalém, um acordo sobre indemnização a cerca de quatro milhões de refugiados e a gestão concertada dos recursos de água.

    (…)

    Do lado de Israel, enquanto os Estados Unidos mantiverem a política seguida pelas recentes administrações democráticas e republicanas de fechar os olhos à expansão de colonatos, nenhum governo afrontará os colonos e muito menos aceitará negociar sem garantias efectivas de segurança.”
• João Pinto e Castro, Como dar cabo de um país:
    “Adam Smith condenava em 1776 as sociedades anónimas por concederem a uma clique a possibilidade de manipular a maioria dos investidores e conquistar um poder desmesurado sobre a economia e o Estado. Como conseguiram então sobreviver e disseminar-se elas apesar de um currículo tão negativo e de opositores tão influentes? A má razão é que isso interessava aos poderosos endinheirados; a boa, que, fora o Estado, só elas estão em condições de canalizar pequenas poupanças para volumosos investimentos em actividades que beneficiam de grandes economias de escala.

    De modo que uma espécie de contrato social instituiu a tolerância da sociedade anónima a troco da sua sujeição a uma regulamentação apertada. Ainda assim, foi só em 1900 que, por entre acusações de socialismo, a lei inglesa impôs, por exemplo, a obrigatoriedade de apresentação aos accionistas de contas auditadas.

    Os sucessos recentes na Islândia recordam-nos que, ainda hoje, é possível os desmandos de aventureiros descontrolados levarem um país à ruína. Mas os estudantes de economia são poupados ao conhecimento de eventos como o relatado, não vá dar-se o caso de ficar abalada a sua confiança nas teorias muito limpinhas que lhes explicam como as economias funcionam. É muito mais conveniente fazê-los crer que tudo se resume a encontrar o ponto de intersecção da oferta e da procura, ignorando a importância das relações de poder na determinação do resultado final.

    Sabemos há séculos que as sociedades anónimas se prestam a toda a espécie de abusos quando a sua actuação não é convenientemente regulada. Em casos extremos, podem semear a miséria e arruinar países. Mas foi preciso chegarmos junto ao abismo para esta verdade ser recuperada e reconhecida.”

1 comentário :

Anónimo disse...

Um pouco como aquilo que tem sido o funcionamento do Estado em Portugal, durante as últimas décadas.
Dirigido por Governos SA.
Felizmente há crise.
Pode ser que assim se consiga inverter a tendência.
Feito um esforço nesta legislatura para arrumar as contas, temo que grande parte dos grandes investimentos que se aguardam, mais não façam do que continuar com um Estado SA.
Quanto ao dilema Governo/Oposição, vai sendo tempo de ter em conta o bom exemplo de Obama.
Da parte do governo, o discernimento de ir à sociedade civil, a alguns independentes de mérito ou mesmo de outros quadrantes políticos, para jogar verdadeiramente na real.
JB