segunda-feira, fevereiro 16, 2009

“Bribery”? Qual “bribery”?

Já tinha prometido algures num post que jaz no arquivo que voltaria aos e-mails a que Felícia Cabrita teve aparentemente acesso. Estive a transcrevê-los ontem. São estranhos os critérios editoriais do Sol. Veja-se:

Na sua edição de 31 de Janeiro, o Sol — sob o título “E-mails fatais” — sustentava que «na correspondência trocada, as “bribery” — pagamentos por baixo da mesa ou ‘luvas’, acordados entre os dois lados — são palavras recorrentes”.

Pois bem, dei-me ao trabalho de transcrever todas as passagens em que o Sol supostamente cita a alegada correspondência (“supostamente” e “alegada” porque, embora o Sol se esteja a marimbar para isso, o processo está em segredo de justiça, logo, ninguém pode saber ao saber se tais e-mails existem e, caso existam, se têm o conteúdo invocado pelo Sol) e nenhuma dessas passagens inclui a expressão “bribery” ou “luvas”:
    • «O Estudo de Impacto Ambiental será em breve aprovado por um documento chamado DIA — “Declaração de Impacto Ambiental” — e assinado pelo secretário de Estado. Assim que recebermos esta aprovação, iniciaremos uma nova e importante fase do projecto em termos de obrigações e questões ambientais em desenvolvimento»

    • «O dia 14 de Março é o mais importante para que tudo o que está pendente se resolva»

    • «Na reunião de 17 de Janeiro assumiste que pagarias pelo EIA 90% à cabeça mas aconselho-te a dividir a quantia em três ou mais tranches»

    • «carta oficial»

    • «Sr. Sócrates, o ministro da Economia e o Presidente do ICN fossem avisados de a carta se destinava apenas para uso da RJM» […] «foi a mudança de usos da autorização geral acordada»

    • «Que todos os protocolos estejam concluídos antes que o novo Governo seja eleito e tome posse»

    • «Tenho estado sob ordens muito rígidas do ministro no sentido de não dizer nada antes da recepção do documento e do relatório»

    • «Aconselho-o a enviar a taxa esta semana em duas partes, uma para o EIA e outra para os protocolos. Tenho as pessoas sob controlo graças a essa transferência»

    • É necessário mais um pagamento para esta fase e ainda temos que pagar a algumas pessoas»

    • «Se eu puder pelo menos mostrar que há uma transferência, isso irá ajudar. Qual a posição relativamente à aprovação do EIA? Para este também é necessário um pagamento de 50 K. Não estou a dizer para pagar, faça só a transferência, de modo a que nada fique estagnado»

    • «Assinaremos a 7 de Junho (sem festa), talvez os seus advogados possam assinar por si»

    • «Pedimos a confirmação da Câmara de Alcochete de que eles ajudarão na aquisição de quaisquer terrenos para as infra-estruturas de acesso e se necessário promoverão uma ordem de compra obrigatória, desde que a Freeport suporte os custos»

    • «Caso os donos das terras não queiram vender os terrenos em questão, então a Câmara usará os seus poderes de expropriação a fim de permitir o empreendimento»
Na edição de 7 de Fevereiro, o Sol insiste que «as referências a “luvas” («bribery») pagas pelos ingleses às autoridades portuguesas são abundantes». Mas, mais uma vez, nas citações utilizadas — algumas das quais repetidas — essas referências não constam:
    • «Pinocchio relembra o contrato de taxa de sucesso»

    • «Fomos contactados pelo Pinocchio relativamente ao contrato da taxa de sucesso. Ele é amigo próximo do Fonseca Ferreira, o presidente da CCR-LVT»

    • «Transferir 50K pelo EIA, na medida em que foi publicado — quero ver a confirmação. Acrescido de mais 50K para os protocolos que estão agora estabelecidos com o ICN e com a CMA»

    • «Aconselho-o a enviar a taxa esta semana em duas partes, uma para o EIA e outra para os protocolos. Tenho as pessoas sob controlo graças a essa transferência»

    • «Se eu puder pelo menos mostrar que há uma transferência, isso irá ajudar»

    • «Quanto mais cedo mostrarmos uma transferência melhor, na medida em que me permite pressionar no sítio certo para conseguir aquilo que precisamos logo que possível»

    • «Este fim-de-semana saberemos quem vai ser o líder da oposição, que é alguém que nós conhecemos»
Ora, pondo de lado as construções fantasiosas, as manchetes sensacionalistas e as insinuações vis que têm rodeado este caso, se juntarmos todo o material que o Sol tem vindo a publicar e o analisarmos fria, objectiva e desapaixonadamente, a conclusão a que se chega é a seguinte: desde que “lidos” sem má-fé e sem má vontade, os trechos citados pelo Sol até podem não esconder qualquer ilegalidade; mas, ainda que tenham por base comportamentos ilícitos, o certo é que nenhuma das citações envolve ou compromete o então ministro do Ambiente José Sócrates. Campanha negra? Há quem, ainda assim, diga que não.

5 comentários :

Anónimo disse...

É preciso ter lata para concluir o contrário daquilo que está escarrapachado nesses mails. Mais uma prova de boa fé...

Anónimo disse...

Depois de ler e analisar profundamento tudo que tem vindo no "sol",a conclusão é de que não passam de meras construções objectivas de criar por um lado dificuldades ao 1º. Ministro e por outro obter receitas extraordinarias para os cofres vazios do jornal.
É evidente que aqui há todo uma estrategia encenada pelo saraivinha e a sua "ilustre" jornaleira que se presta a todas as situações.

Quem está de boa fé , compreendeu desde o inicio que tudo não passou de um trama negro, que tinha como destino colocar a direita no poder. Tudo serve para os fins em vista. Mesmo pondo na lama o nome de pessoa serias e honestas.O povo já compreendeu e Socrates voltará a governar Portugal.

Anónimo disse...

O Sol ainda existe?

Joe Rod disse...

A cabrita tem razão! Li e reli e em nenhum sítio está escrito que o Sócrates não recebeu os 4 milhões (não sei de quê, mas também não diz) portanto deve ter recebido. Ah e também não diz em lado nenhum que a compra da casa da mãe foi legal e assim é lógico que não pode ter sido.
Basta saber ler nas borras de café, nas fezes de cabrita ou em cabelo espigado para ter a certeza.

Anónimo disse...

Já em 2003, no inicio do caso Casa Pia, esta senhora foi acusada de procedimentos pouco escrupulosos. Isto é, na ânsia de protagonismo e de outras ansiedades, parece que não olha a meios para alcançar fins. Tenho nos meus arquivos o que na altura foi dito sobre ela num blogue, "Muito Mentiroso". Nunca, que eu tenha noticia e apesar de mais tarde ter o seu autor sido identificado, houve qualquer pedido de intervenção judicia, apesar de serem muitos os visados e muito graves as acusações e insinuações que então e ali se fizeram.Vamos ver no que vai dar a novela "Casa Pia", que esta escriba foi a "mãezinha"... Como diz o povo: "Para verdade o Tempo..."