domingo, fevereiro 15, 2009
A deriva sindical do Ministério Público
António Cluny, o presidente vitalício do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, já nos habituou às suas diatribes contra o poder político democrático. Agora está a virar-se noutra direcção: para o procurador-geral da República e para alguns dos seus colegas que não dizem nem fazem aquilo que ele quer.
Cluny e os sindicalistas protestam por não haver regras de distribuição dos processos no Ministério Público. Se calhar, o presidente vitalício queria que houvesse uma distribuição por sorteio como acontece com os juízes e os tribunais.
Cluny ignora que entre juízes e procuradores do Ministério Público há uma grande diferença. Os primeiros são titulares de um órgão de soberania. Por isso, não estão sujeitos a uma hierarquia.
Já o Ministério Público está sujeito a uma hierarquia, que tem no topo o procurador-geral da República. Por isso, este é designado mediante a concordância do Governo e do Presidente da República. A hierarquia do Ministério Público está prevista na Constituição da República e engloba também o Conselho Superior do Ministério Público, os procuradores-gerais distritais, os coordenadores do DCIAP e dos DIAP, etc., etc., etc.. É a estes superiores hierárquicos que incumbe distribuir os processos pelos magistrados que estão na sua dependência.
Cluny não quer que seja assim, porque, ao contrário do que diz, não confia nos seus colegas e naqueles que exercem as funções de liderança. O presidente vitalício do sindicato confia apenas na corte de seguidores que gravita à sua volta, que, desde há anos, se constituiu como poder ilegítimo e antidemocrático na justiça portuguesa e que se entretém na intriga e na exibição de vaidades mediáticas.
Por vezes, o regime democrático tem dado sinais de tibieza. Mas, para mal de Cluny e dos seus seguidores, ainda há muita gente que não se dispõe a deixar virar as instituições de pernas para o ar.
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8 comentários :
Muito bem.
Excelente artigo.
Também acho que o MºPº anda em roda livre e disso gostam eles. E como ninguém nada lhes exige, pouco se importam já que têm o seu salário certo no fim do mês.
Eles, que têm obrigação de defender os cidadãos nos tribunais zelando pela coisa pública, deveriam ser os primeiros a exigir em nome do povo e do Estado que os malandrecos que delapidam os dinheiros do Estado os reponham, indo-lhes à carteira.
Como não existe cultura de responsabilidade cá temos o imobilismo e a explicação para ele.
Abel Lacerda
O homem tem que dizer qualquer coisa...
Para que serve um sindicalista, senão para "vociferar" contra?
Excelente.
É intolerável que estes servidores do Estado, em vez de prestigiarem a função pública, se sirvam dos cargos que ocupam para defender os interesses pessoais e do seu grupo.
A crise tornou mais evidente do que nunca a diferença abissal entre condições de remuneração, benefícios e segurança no emprego existente entre os trabalhadores da função pública e do sector privado. Haja decoro!
E ainda bem que no Ministério Público haja quem não compactue com manobreiros que se servem do Estado em vez de o servirem.
Cerca das cinco horas da madrugada, dois soldados da GNR entram na urgência de um hospital com um indivíduo algemado, pretendendo que ali fique debaixo da alçada dos serviços de psiquiatria. O indivíduo teria causado alguns danos em casa dos pais com quem vive. Questionados os soldados sobre a identidade da autoridade que os mandou apresentar o detido no hospital, respondem que tentaram contactar o Procurador de serviço mas que este tinha o telefone desligado. Isto aconteceu anteontem. Moral da estória: os magistrados do Ministério Público querem continuar a dirigir a investigação criminal de telefones desligados.
É bom é poder ter os procuradores controlados por causa do Freeport...
A canalha ruidosa gosta sempre de aparecer, mesmo quado não e convidada.
Alguns dos magistrados do mp, funcionarios de carreira publica,gostam mais de depender de certos partidos politicos e corporações de indole fascista, porque de democratas nada tem.
E querem eles o quê?
Independência para que ninguém os incomode com os telefonemas como no caso em que levaram o rapaz para o hospital?
Não estou disposto a pagar isto com os meus impostos.
Eles julgam que são pagos pela grana que cai do céu.
Era bom que alguém é magistrado não tivesse direito a uma fotografia manipulada - depois queixa-te do Pinochio...
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