- “A comunicação social não inventou o caso Freeport, como argumentou Fernando Madrinha na última edição deste jornal, mas deveria assumir as suas (pesadas) responsabilidades pelos graves atropelos às regras legais e deontológicas que generalizadamente cometeu. Em primeiro lugar, com a violação do segredo de justiça. Em segundo lugar, com a grosseira manipulação da informação em torno do caso, que a TVI praticou perante o silêncio (quase) geral.
Sempre tão pressurosa a denunciar atropelos à sua liberdade, a generalidade dos órgãos de comunicação social, mesmo aqueles que não cometeram esse delito, têm evitado comentar os graves e reiterados casos de violação do segredo de justiça. Na verdade, esses órgãos agem em função do seu interesse próprio — comercial ou político... —, desprezando a presunção de inocência e a protecção do bom nome dos cidadãos, a eficácia da justiça, em suma, a sua própria responsabilidade social.
(…)
No entanto, pior do que a revelação de documentos em segredo de justiça é a sua divulgação deturpada, como a TVI tem procedido grosseira e reiteradamente. Bem sei que o 'Jornal Nacional' das 6ªs-feiras é de tal forma primário e canhestro que se torna pateticamente ineficaz. Mas não deixa de ser confrangedor verificar que este estilo, onde o rigor é absolutamente inexistente, subsiste há meses perante o ruidoso silêncio da regulação e da autorregulação do sector.
Bem sei que, em surdina, existe uma crítica generalizada aos responsáveis por esta tristíssima caricatura de informação. Mas apenas o director do "Diário de Notícias" disse alto o que tantos outros, concordando, não têm tido a coragem de assumir publicamente.
(...)
P.S. — No editorial do Expresso de 7 de Fevereiro anunciava-se que o jornal recusara a publicação de material sobre o caso "ou por não estar devidamente confirmado através do cruzamento de fontes, ou por não estar suficientemente documentado, ou, ainda por nos parecer proveniente de pessoas cuja motivação poderia não ser o simples esclarecimento e informação, mas antes espalhar boatos ou meias verdades". Aqui está um corajoso retrato do que anda por aí no caso Freeport.”
- “Seria expectável que num contexto de aproximação de eleições e de acentuar da crise económica e social, a contestação organizada tendesse a aumentar. Será que é isto que vai acontecer em Portugal durante este ano?
É sabido que não só apresentamos níveis de conflitualidade (medidos pelo número de greves) comparativamente baixos em termos europeus, como se tem verificado uma tendência de acentuada descida. Contudo, há indícios de que a baixa conflitualidade laboral coexiste com níveis elevados de contestação política de base sindical.
A manifestação de ontem é um exemplo de mobilização política do movimento sindical sem uma componente visível de conflitualidade laboral. Não houve convocação de greves, nem as reivindicações que tipicamente lhes estão associadas. É, aliás, provável que, quando forem apurados os dias de trabalho perdidos, fiquemos bem longe dos 200 mil manifestantes de que fala a CGTP.
Este tipo de afirmação da CGTP é problemática: por um lado é difícil manter a conflitualidade política a níveis elevados durante um período alargado de tempo sem qualquer tipo de reivindicação, para além de um radical “mudar de rumo”; por outro circunscreve a mobilização a uma contestação política que acantona o movimento sindical.
O próximo ano pode vir a caracterizar-se pela mobilização impressiva do movimento sindical, contudo, é duvidoso que esta vá para além da base política estanque na qual, com consequências muito negativas para o país, assenta o sindicalismo em Portugal.”
1 comentário :
As tentativas e as tentações da instrumentalização:
De um lado temos uma Esquerda instrumentalizando a Função Pública e do outro temos a Direita instrumentalizando o 4º poder - a comunicação social.
O que há de comum entre ambos?
Entre ambos não há nada, os "possuídos" é que se deixam instrumentalizar.
...Mas porque a justiça se deve impor é claro que há quem não se deixe instrumentalizar, tanto na função pública como no jornalismo.
E Quem são esses?
São aqueles bravos que conseguem manter o superior interesse e sentido do colectivo como povo e nação, acima do egoísmo do espírito corporativista e da falta de isenção.
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