- «Ao longo dos últimos meses, o impacto da crise financeira sobre a actividade económica apareceu expresso na maioria dos indicadores de conjuntura que os economistas acompanham. Cada indicador divulgado alimenta uma série de notícias negativas na comunicação social, que por sua vez geram um efeito "bola de neve" no pessimismo das famílias e empresas. Este pessimismo traduz-se depois, muitas vezes, numa alteração das decisões de despesa destes agentes. Ou seja, uma parte importante da crise resulta de um pessimismo que se auto-alimenta e reproduz, "contaminando" registos futuros dos mesmos indicadores de conjuntura.
Muitos destes indicadores são incorporados pelos economistas nas suas previsões. Assim, a sua evolução contínua no sentido descendente ajuda a que as expectativas de crescimento do PIB sejam revistas sucessivamente em baixa, e com uma grande rapidez. Ao longo do último ano, assistimos a uma espécie de corrida ao campeão do pessimismo. E cada previsão mais negativa que é divulgada deteriora ainda mais o sentimento dos agentes económicos, contribuindo para uma nova contracção da procura (constituem, assim, verdadeiras "self-fulfilling prophecies"). Mas as previsões económicas costumam ter dificuldades em antecipar os momentos de viragem dos ciclos. Ou seja, é muito possível que, a certa altura, a extrapolação das tendências recentes e algum "comportamento de rebanho", tipicamente associados às previsões, não consigam apanhar logo os primeiros momentos de inversão (ou recuperação) da actividade económica. Neste sentido, todas estas previsões devem ser lidas com cuidado.
(…)
Neste contexto, e independentemente do "timing" exacto de uma recuperação, um dos maiores riscos - senão o maior - que as principais áreas económicas deverão enfrentar é o do aumento do desemprego ao longo de 2009 e 2010. Para além dos dramas individuais e familiares, taxas de desemprego em torno de 10%-11% da população activa nos Estados Unidos e na Zona Euro, ou próximas de 20% (!!) em Espanha, sugerem um importante aumento do risco de tensões sociais. Neste sentido, mais do que forçar novos estímulos à actividade económica, seria importante agilizar e fortalecer os mecanismos de apoio e inclusão social.»
- “Assim, o FMI vê-se agora de novo no centro do universo económico. De que forma escolherá implementar o seu poder redobrado?
O maior risco é que volte a exagerar em termos de alcance e influência. Foi isso que aconteceu na segunda metade da década de 90, quando o FMI começou a pregar a liberalização das contas de capital, aplicou remédios orçamentais demasiado restritos durante a crise financeira asiática e tentou redesenhar por conta própria as economias asiáticas. Desde então, a instituição já reconheceu os seus erros em todas estas áreas. Mas estamos ainda para ver se as lições foram inteiramente internalizadas e até que ponto é que teremos um FMI mais gentil e afável em vez de um FMI rígido e doutrinário.”
- «Tinha havido disso alertas anteriores: o pesado silêncio face às repetidas ofensivas madeirenses "ao regular funcionamento das instituições" - desde a resistência anunciada ao cumprimento da lei do aborto ao barrar da entrada de um deputado na Assembleia Regional, passando pela acabrunhante visita presidencial ao arquipélago e pelo facto de ter aceitado que o Governo Regional o impedisse de ir à Assembleia "por se tratar de um bando de loucos" -, silêncio que contrastou com a fúria contra o Estatuto dos Açores (independentemente das razões que lhe poderiam assistir) e que demonstrou ao País a clara existência de dois pesos e duas medidas, pesos e medidas que renegam a ideia (algo lírica, é certo) de um Presidente como vértice vigilante e sem pendor partidário.
Mas também isso estava previsto. Entre as objecções à sua eleição, em 2006, contou-se a de que seria incapaz de se ater às funções presidenciais estatuídas na Constituição. A ideia, fundamentada numa avaliação psicológica de Cavaco como alguém que acha que só ele sabe o que é bom e certo, era a de que não resistiria à vontade de ser "o homem do leme". O prefácio do livro Roteiros III, em que anuncia não se poder limitar a "fazer diagnósticos" mas achar ser sua obrigação "apontar caminhos", como os termos do seu último discurso, repetindo quase palavra por palavra a doutrina da líder do PSD e estrategicamente pronunciado quando já não pode dissolver o Parlamento, vieram apenas confirmar que está em campanha - e, portanto, na campanha. Desenganem-se, porém, os que crêem que o faz pelo PSD. O caminho que aponta é só um: Cavaco, Cavaco, Cavaco.»
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