sexta-feira, junho 12, 2009

É "o capital" que paga "a rua"

Ingenuamente, ainda há quem pense que "a rua" também ganha eleições. E que, por exemplo, as manifs da Inter e dos profs ajudaram a esquerda nos bons resultados das europeias.
Será?
O Jornal de Negócios fez hoje uma comparação entre os orçamentos previstos pelos partidos para a campanha eleitoral e os resultados obtidos.
Conclusão: cada deputado eleito pelo PCP custou 600 mil euros, quase o triplo do que custou cada eurodeputado eleito pelo PS (217 mil euros).
Afinal, mais que "a rua" é "o capital", literalmente, a verdadeira oposição a este Governo...

3 comentários :

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Só que a CDU foi buscar o seu financiamento à "rua", enquanto o PS foi buscar o seu ao mundo dos negócios...

Lamento, mas a "rua" ganhou esta eleição. O que já era de prever desde a vitória de Obama.

Paulo Lobato disse...

Caro João Magalhães,

Não perceber a força que os outros partidos têm, neste caso o PC, é meio caminho andado para a derrota.
Pela lógica apresentada os partidos mais pequenos tiveram o custo mais elevado.

um abraço

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Primeiro, puseram em causa a legitimidade da "rua". Agora põem em causa a sua eficácia. Depois de um erro, outro erro.

É claro que a "rua" tem legitimidade. Na cabina de voto, tudo o que é permitido ao eleitor é pôr uma cruzinha num partido ou num candidato que até pode nem ser o da sua preferência. Os cientistas políticos e os matemáticos conhecem maneiras de fazer com que o voto exprima mais fielmente e mais explicitamente a vontade do Soberano - mas não estou a imaginar os políticos profissionais a aceitar seja o que for que transfira poder da sua corporação para os eleitores.

Resta assim a "rua" como única instância com legitimidade e capacidade para explicitar o sentido do voto popular. Só não tem legitimidade para ir directamente contra ele; mas não vi nas manifestações dos professores ou dos agricultores nenhum cartaz a exigir a substituição imediata e sem eleições do Governo PS por um de qualquer outro partido.

Ao negar liminarmente qualquer parcela de legitimidade à "rua", o Governo disse a uma parte da sociedade civil "vocês não existem". E se o disse a uma parte da sociedade civil, deixou em aberto a possibilidade de dizer o mesmo a toda ela. A sociedade civil tomou nota.

O governo pode ter pensado que estava, com esta exibição de "firmeza", a reforçar a sua própria legitimidade; mas estava, pelo contrário, a enfraquecê-la.

Quanto à eficácia da "rua", não vou repetir o que escrevi no meu comentário anterior. Só vou acrescentar que vi na televisão, há poucos minutos, o Ministro da Agricultura a lamentar que as organizações do sector interviessem nas campanhas eleitorais - às quais chamou, significativamente, "campanhas partidárias".

Santa ingenuidade! Com as evoluções tecnológicas dos últimos quatro ou cinco anos, a "rua" e as "corporações" adquiriram os meios de intervir nas eleições. Podem organizar campanhas paralelas, reunir fundos, influenciar os termos do debate. Quem tem poder exerce-o. Esta disseminação do poder pela sociedade - pelas corporações, pois claro! representa um avanço enorme para a democracia substancial. Para a democracia formal, representa um abalo: mas nada a que ela não possa sobreviver.

O meu conselho à corporação dos políticos profissionais é este: tinham o monopólio da acção política: perderam este monopólio a favor dos cidadãos, isto é, da "rua" e das "corporações"; e não o vão recuperar. Mas ainda ficaram com uma larga margem de acção. Agora adaptem-se à nova realidade, ou percam, a favor de outros políticos mais inteligentes e mais sintonizados com o Zeitgeist, a margem de acção que ainda têm.