Houve tempos em que José Manuel Fernandes tinha uma concepção diametralmente oposta à que defende, na hora actual, nas páginas do Público acerca da avaliação dos professores. E as posições que o director do Público agora renega não têm décadas: foram expostas em Julho de 2006 na revista Pontos nos ii.
O artigo de Fernandes era uma resposta a Mário Nogueira da Fenprof:
‘Os professores são intocáveis?
Há quase oito anos que, como director do Público, acompanho por dentro o funcionamento e os métodos de gestão de um grande grupo empresarial português. No centro desses processos está o culto da meritocracia e uma constante pressão para responder aos desafios que são colocados a toda a organização e a cada um dos seus membros. Com sinceridade devo dizer que, ao princípio, tais métodos geraram resistências, mas hoje compreendemos que fazem sentido.Meritocracia? Claro, mas só é possível aferi-la através de critérios de avaliação consistentes, debatidos com as equipas e por elas aceites. Critérios com uma componente de objectivos a cumprir, mensurável, e outra de apreciação subjectiva. Isso passa por «palavrões» da gestão como os famosos KPI, isto é, key performance indicators, no fundo o conjunto dos indicadores a atingir de acordo com a estratégia da empresa e o seu orçamento. No fim do ano uma parte da remuneração de todos os trabalhadores depende de se terem ou não cumprido as metas globais e individuais. E outra parte da remuneração varia em função da avaliação qualitativa das suas prestações individuais.
Nada disto é estranho à maioria das boas empresas privadas - e também é assim no Público. Por isso, como jornalista e como director, é natural que um dos meus indicadores seja a circulação do jornal. Da mesma forma acharia natural que, se fosse professor, me avaliassem em função daquilo que consegui ensinar aos meus alunos ou, idealmente, de como os consegui fazer progredir ao longo do ano já que nem todos têm a mesma preparação. Já na avaliação qualitativa é essencial existir um sistema de «quotas», pois esta é sempre mais subjectiva: no Público chamamos-lhe «distribuição forçada» e ajuda-nos a pensar, pois obrigam-os a hierarquizar, a reflectir sobre os que mais contribuem para o jornal e os que apenas cumprem os mínimos. Como qualquer professor sabe, se classificar os alunos de uma forma séria, as «notas» distribuir-se-ão de acordo com uma curva de Gauss. Ora se esta estiver sistematicamente distorcida é porque há problemas na avaliação ou nas aprendizagens. «Quotas» ou «distribuição forçada» são apenas formas diferentes de fazer resultar da avaliação uma curva de Gauss.
Não entendo pois a reacção de muitos professores a um maior rigor na sua própria avaliação. Se não são intocáveis, como entendo que os jornalistas também não são, têm receio de quê? Dir-me-ão que das injustiças, que ocorrem sempre. Mas haverá pior injustiça do que bons e maus professores serem tratados por igual enquanto os seus alunos continuam a estar entre os pior preparados do mundo desenvolvido?’
8 comentários :
O Zé dá umas cambalhotas... vale tudo.
Eu pagava para ver o JMF como Ministro da educação assim uns 3 meses. Juro que pagava. Digo 3 meses porque ele não durava lá mais. Demitia-se.
É o resultado da OPA da SONAE à PT... é ainda e sempre a mesma razão.
Curiosamente creio ser essa também a única razão pela qual o jornal está nas bancas todos os dias... o ódio ao governo e a Sócrates.
Depois das eleições veremos quanto tempo mais resiste o (WC) PÚBLICO.
a este respeito vale também a pena citar a velha manela, antes de ser líder do psd, que na renascença dizia que "o governo não pode em caso algum voltar atrás na avaliação dos professores".
Uma curva de Gauss resulta de um processo aleatório. Um processo de ensino não é aleatório, logo a curva dos resultados deve de facto ser "distorcida": devemos ter mais resultados bons do que resultados maus. Senão para que andamos a ensinar?
JV
"Uma curva de Gauss resulta de um processo aleatório".Creio que a curva de Gauss, porque é teórica,
resultará do total de uma população e não de uma amostra.
Assim, quanto maior a população avaliada mais os resultados
serão próximos da curva teórica.
Andei a ensinar mais de 40 anos e pude verificar a existência de muito bons e muito maus(poucos)e muitos médios; isto indepentemente da qualidado do ensino, desde que se aplique a uma população.
Bem descoberto este artigo. Meu Deus, talvez por mais nada, só isto. Mais nada será preciso, para comprovar à saciedade, quanta desonestidade anda por aí na chamada imprensa de referência. E o curioso, é que são estes tipos, precisamente estes tipos, que andam de dedo em riste a acusar os políticos de dar cambalhotas. Este JMF, como diz o outro, é um cú onde jamais se sentou um homem. Ora Ora.
O ensino não é uma empresa!
este artigo rui pela base!
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