quinta-feira, agosto 20, 2009

Leituras

• Hugo Mendes, O duplo pacto:
    A discussão é particularmente actual no momento em que o PS propõe ao país um duplo pacto: para o reforço da internacionalização da economia e para a expansão do Estado social. Os pactos complementam-se porque permitem aumentar a coerência entre os regimes de produção de bens transaccionáveis e de protecção das pessoas. Claro que é impossível copiar as instituições ou a trajectória dos países europeus pós-1945: em Portugal, a representação do capital e do trabalho é menos unificada; a taxa de sindicalização no privado é muito reduzida; grande parte dos empregadores e trabalhadores é pouco qualificada; o tecido económico tem bolsas de baixíssima produtividade. Sabemos, porém, que as instituições condicionam a acção dos parceiros, mas não a determinam. A escolha da estratégia é, por isso, decisiva.

    A estratégia do duplo pacto, aposta na definição dos ‘clusters' que merecem a aposta prioritária dos sistemas público e privado de inovação. Aposta em medidas de apoio à capacidade organizacional das firmas e à sua inserção em redes internacionais. Aposta na qualificação de pessoas ao nível do ensino superior e do secundário. Aposta em níveis elevados de contratação colectiva e moderada segurança laboral. Aposta em trabalhadores mais bem pagos; num país onde o salário mediano ronda os 700 euros e cerca de 500.000 ganham o salário mínimo, é preciso prosseguir o aumento deste, medindo o impacto no emprego. É possível, porém, aumentar o rendimento do trabalhador se o Estado fornecer um complemento ao salário; a medida, que existe em inúmeros países, consta do programa do PS.
• João Cardoso Rosas, Falta de comparência:
    Na semana passada, José Sócrates publicou no "Jornal de Notícias" um artigo em que explicava o que, no seu entender, separa o PS da direita, ou seja, do PSD. Referiu três pontos: uma atitude na governação que é positiva e contraria o pessimismo ou o passadismo da direita; a aposta no investimento público - tanto aquele que está em curso (renovação do parque escolar, etc.) como os chamados "grandes investimentos" - que a direita quer "cortar"; o reforço do Estado social, que a direita pretende "rasgar" (com o fim da gratuidade do SNS, a privatização parcial da Segurança Social, etc.).

    Na minha opinião, as teses de Sócrates, fazendo embora parte de uma estratégia eleitoral, são substantivas, têm grandes consequências para o futuro do país e merecem discussão. Numa qualquer democracia avançada, a oposição viria imediatamente rebater as ideias apresentadas pelo primeiro-ministro. Foi isso que fez Ferreira Leite? Não, de maneira nenhuma. O que ela disse merece ser reproduzido integralmente: "Não respondo. Tudo aquilo é ataque político em vésperas de eleições. Deixarei ao sentimento e à consciência dos portugueses como devem resolver."

    Esqueçamos os pontapés na gramática em que Ferreira Leite é pródiga e centremo-nos no conteúdo do que afirma. Ela adjectiva o artigo de Sócrates como um "ataque político" tentando assim pôr-se acima da política e, portanto, eximir-se à obrigação de responder.

    Ora nenhum líder partidário está acima da política. Tentar transmitir essa mensagem revela falta de ética democrática. Pior que isso é o apelo de Ferreira Leite "ao sentimento e consciência" dos eleitores. Uma líder política democrática apela à razão dos eleitores, não ao seu "sentimento e consciência".

1 comentário :

Anónimo disse...

Este comentário não se reporta às escolhas das leituras, que são boas, mas destina-se a falar sobre o sósia do Públ i co, o i. Ou se quiserem, o i rmão mais novo do Públ i co. Aquele jornalismo deve estar "sob escuta" da São Caetano à Lapa. O artigo de hoje procura "lavar" o PSD do episódio das escutas, como se eles (PSD) nada tivessem a ver com o caso. Pois! A invenção do Públ i co teve origem numa assessora do presidente da república, que estava numa lista da distrital para ser candidata. E acabar com a espuma em torno das listas dos deputados, sobre a qual já ninguém fala, dá um não um ajudinha? Pois é, pois é, srs do i, não se lembraram desse pormenor... Fica para a próx i ma!