Paulo Guinote tem publicado alguns posts que procuram desmascarar a alegada manipulação estatística que o Ministério da Educação teria realizado com os dados relativos ao insucesso escolar, apresentados na passada segunda-feira.
Que está realmente em causa?
1. Paulo Guinote contesta que o ano de referência para a comparação realizada pelo Ministério da Educação seja o ano lectivo de 1996/1997; se o ano fosse o de 1993/1994, afirma – e mostra com dados oficiais -, os ganhos no combate ao insucesso seriam bastante menores.
Ora, há uma razão muito simples e que o autor conhecerá bem: a introdução dos exames nacionais no ano lectivo de 1995/1996, e que fizeram subir as taxas de insucesso neste ciclo de ensino. Se é usado o ano de 1996/1997 é porque se trata do segundo ano de aplicação desses exames (o primeiro ano, como o autor recordará, foi excepcional porque existiu uma bonificação nos resultados dos exames).
Não fazia nenhum sentido comparar os dados mais recentes com o ano anterior à introdução dos exames nacionais, que corresponde a uma muito significativa mudança das regras do sistema de avaliação.
2. Paulo Guinote escreve como se tivesse descoberto a pólvora: afirma que os cursos CEF são “vias que são frequentadas maioritariamente por alunos que têm dificuldades em acompanhar o currículo comum e que, em regra, apresentavam à entrada nestes cursos um historial de maior insucesso com várias repetências”.
Ora, estes cursos visam, antes de mais, combater o insucesso escolar — uma prioridade do sistema educativo e aceite consensualmente por toda comunidade educativa, para não dizer todo o país —, ou seja, que os alunos deixassem a escola sem qualificações e fossem acabar no mercado de trabalho desqualificado para toda a vida. Mais: estes cursos foram sempre apresentados como tendo o objectivo acima exposto. Qual é exactamente o problema?
Manter os alunos na escola com aproveitamento em formações mais longas é muito mais útil e importante para eles e para a sociedade do que deixá-los sair precocemente para o mercado de trabalho. Ninguém pretende argumentar que estes alunos se tenham “tornado melhores alunos do que os das turmas regulares”. Os percursos são diferentes, e todos os sabem — professores, alunos, futuros empregadores e público.
A aposta nas vias profissionais do secundário — e quem lê Paulo Guinote fica com a impressão de que é um ensino secundário “anormal” — é vista pela comunidade educativa como um sucesso que peca apenas por ter vindo muito anos atrasado. Há coisas a melhorar? Há, sim. Mas só é possível melhorar aquilo que foi introduzido, resultado de uma inovação política de grande alcance no sistema. Há uns anos todos se queixavam que havia demasiado insucesso e abandono e não havia cursos profissionais que permitissem ajudar a estancar a saída de alunos do sistema. Agora há - o que é preciso é corrigir as insuficiências identificadas.
Para alguns, parece que seria preferível que milhares de alunos tivessem simplesmente continuado na rua, sem qualificações.
[Publicado antes no SIMplex]
2 comentários :
Miguel Abrantes também sabe que no período apresentado pelo Governo existiram alterações similares - caso do "regime de permeabilidade" - que inviabilizariam comparações, a seguir o seu critério.
Mas são coerências...
Caro Paulo G., que o regime de permeabilidade foi pensado para acabar com situações que não faziam grande sentido. E foi uma medida deste Governo. Se o insucesso baixou, foi também devido a essa medida, e não me parece que o Governo ande a escondê-la. Como não anda a esconder o estatuto de aluno. Se as medidas permitiram baixar o insucesso, so what? Significa, em particular o último, que os professores não podem mandar os alunos borda fora com falta e têm trabalhar mais um bocadinho com eles? É isso? Dá trabalho, nao é?
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