‘O aumento do PIB no segundo trimestre é uma boa notícia para quem se preocupa com o desemprego. O aumento de 0,3 (quase 1 ponto percentual acima do esperado) cria uma esperança fundamentada de que o desemprego poderá começar a diminuir já na primeira metade de 2010.
Na manhã do dia em que o INE anunciou que o PIB Português cresceu 0,3 por cento no segundo trimestre, vários analistas apresentavam ainda previsões de que, mesmo com as notícias positivas que vinham da França e Alemanha, Portugal devia ter uma quebra entre os -0,5 e os -1% do PIB. Neste contexto, e considerando que as previsões negativas acabaram por se verificar em muitos países europeus, o aumento de 0,3 por cento foi uma surpresa muito positiva.
No dia seguinte foram anunciados os dados do desemprego que revelavam que o desemprego aumentou no segundo semestre. Algumas pessoas viram uma contradição na simultaneidade das duas notícias.
No entanto, não há qualquer contradição. É normal haver um desfasamento entre a retoma da economia e a recuperação do emprego. Quando há uma retracção da procura as empresas ficam a operar abaixo da sua capacidade, subutilizando a sua força de trabalho. Quando há retoma, o aumento da produção começa por se dar sem aumento do emprego.
Quer isto dizer que o facto de ter havido um crescimento de 0,3 por cento do PIB não teve qualquer efeito no desemprego?
Comparando a evolução do desemprego na União Europeia com a de Portugal pode-se observar que o facto de a economia portuguesa estar a responder melhor à crise em termos de manutenção da produção está já a resultar num aumento do desemprego mais moderado do que o da generalidade dos países europeus.
O gráfico mostra que Portugal, apesar de estar a ser fortemente afectado pela crise internacional, não sofreu um salto no desemprego como aconteceu na Espanha, Irlanda, Estónia, ou mesmo nos EUA. Fora do gráfico estão outros 17 países que também apresentaram aumentos do desemprego superiores ao português - ver quadro. Em 10 destes países o desemprego cresceu mais do dobro do que em Portugal, em cinco o ritmo de crescimento foi 4 vezes superior ao do nosso país.
Os dados do Eurostat mostram que não houve um único país entre os 27 que não tivesse registado aumento do desemprego entre Agosto de 2008 e Junho de 2009. O crescimento do desemprego associado à crise foi e é um problema de todos os países da Europa e do mundo inteiro.
O aumento do desemprego em Portugal é preocupante sendo o mais urgente problema social. O governo português percebeu isto cedo, reconhecendo a gravidade da crise internacional e avançando com medidas de estímulo da economia, apoio às PMEs e salvaguarda do emprego. A resposta surgiu ainda em 2008 e princípio de 2009, antecipando-se à de muitos governos europeus. Termos sido mais rápidos a actuar não consegui evitar o aumento do desemprego, mas consegui travar o suficiente para evitar uma evolução dramática como a que se está a verificar nos países bálticos, em Espanha, na Irlanda ou mesmo nos EUA. Portugal foi o sétimo país dos 27 com menor aumento do desemprego neste período de crise (*), conseguindo resistir à crise melhor que a maioria dos parceiros comunitários.
O facto do PIB português ter crescido no segundo semestre, tirando o País de recessão técnica, não significa o fim da crise. Significa apenas o princípio do fim da crise. Significa que ainda há muito a fazer. Este não é o único sinal de que o País pode estar a atingir o ponto de viragem mais cedo do que a maioria dos seus parceiros comunitários. Os últimos dados do Banco de Portugal revelam que o indicador de sentimento económico aumentou mais de 11 pontos desde Março.
Os indicadores de confiança dos consumidores, da indústria, do comércio e serviços, apesar de se manterem negativos registaram também fortes melhorias desde Março. A bolsa portuguesa recuperou 40% desde os mínimos de Março. Todos estes factos juntos abrem uma janela de esperança de que dentro de 6 ou 9 meses se possa começar a assistir a uma descida sustentada do desemprego. É por esta razão que o aumento de 0,3 do PIB é uma boa notícia para os 9% de desempregados.’
(*) Portugal regista a sexta menor taxa de crescimento do desemprego entre Agosto de 2008 e Junho de 2009 e está na sétima posição com um dos menores aumentos em termos de pontos percentuais.
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