segunda-feira, outubro 05, 2009

No dia da autocrítica




Cavaco não queria discursar hoje. Hesitou, mas acabou por em boa hora o fazer, ainda que se tivesse distanciado das comemorações tradicionais do 5 de Outubro. Sabe-se que os portões se abriram para receber o povo e que o Hino Nacional foi tocado quatro vezes.

Contrariamente ao que se esperaria, o discurso do Presidente da República, que apareceu escoltado pela Guarda Republicana, fica para a história. Não por ter aproveitado o evento para uma campanha de marketing: “o Museu da Presidência da República perfaz o seu quinto aniversário e foram lançadas diversas iniciativas culturais a que todos os cidadãos têm acesso.” Mas porque contém uma plangente autocrítica.

Com efeito, aquele que foi primeiro-ministro durante dez anos pôs a mão na consciência e disse: “Ao fim de cem anos de República, é tempo de sabermos o que queremos para o nosso futuro, o caminho que queremos trilhar.”

Ainda os populares presentes não estavam recompostos desta tão inesperada confissão do ex-primeiro-ministro, já o Presidente da República dava conta de que está firmemente decidido a arrepiar caminho: “Devemos unir-nos em torno dos grandes ideais republicanos. Ideais que exigem, da parte dos agentes políticos, um esforço acrescido para a concretização da ética republicana e para a transparência na vida pública.”

Depois desta profissão de fé, poucas dúvidas restarão de que as peripécias em torno do caso das escutas, que coincidiu com a elevação da Dr.ª Manuela à São Caetano, hão-de ser tornadas públicas. E quem sabe se os meandros das negociatas da Sociedade Lusa de Negócios também não virão à luz do dia por arrasto, tendo em conta a sinceridade da autocrítica?

1 comentário :

Pedro L disse...

Este post deveria ser colocado para a posteridade.
Está excepcional, mas mais excepcional está o último parágrafo.
Mas Sr. Presidente da República, não se livra daquilo em que se meteu.
Mas melhor que essas comemorações, foi aquela em que estive presente.
Na Fundação Mário Soares, no Lançamento do Livro «A Maçonaria e Implantação da República». Aqui sim respirava-se República.
Foi uma tarde cheia de Repúblicanos e alguns Maçons, pessoas que deram das suas vidas para a implantação da República, sacrificando as suas vidas e a das suas famílias, em prol da República, onde todos votam, onde todas podem dizer «disparates de verão». Para que saiba o Sr. Primeiro-Ministro, esteve presente !, Também o Sr. Presidente lá deveria ter estado. Penso que não terá problemas com aqueles que implantaram a República, pois não?