O taxista de Almoçageme

Auto-retrato do Zé Manel

Inconsolável — é o seu estado de espírito. Nem a brisa que sopra da praia da Adraga lhe eleva o astral. Com uma mantinha sobre as coxas para não apanhar um resfriamento, o Zé Manel, enquanto desliza pelas ruas da aldeia à procura de clientes, desabafa: “Se se confirmar, e com este argumento, é o descrédito total”. O taxista de Almoçageme não se refere ao magistrado do Ministério Público de Aveiro, mas ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça que fez cumprir a lei.

Entretanto, entra um cliente, Rodolfo129, que é apanhado de chofre pelos conhecimentos jurídicos do Zé Manel (adquiridos, consta, no Jardim Botânico): “@Rodolfo129 Parece-me que não: serão nulas em qualquer processo. Por causa de uma mudança no Código Penal feita já no tempo de Sócrates”. Sim, Zé Manel, feita no tempo do Socras, mas a “mudança” (não a da caixa de velocidades) foi aprovada pela Assembleia da República.

E é então que o revoltado taxista de Almoçageme se revela em todo o seu esplendor: “Moral da história: mesmo que apanhados em flagrante delito numa escuta legal a outra pessoa, os manda-chuva safam-se sempre.”

Não sei se os leitores estão a ver as consequências desta atitude insensata de Noronha do Nascimento. O Zé Manel chegou lá primeiro do que nós: “Em tese [sic], se Sócrates dissesse a Vara pr matar inimigo comum, nada acontecia pq PM só pode ser escutado por ordem do STJ”. E para que não subsistam dúvidas, o taxista anexa um parecer de um outro vulto do direito e do jornalismo (“certidão… onde”).

Agora, teremos todos de ter calma. O luminoso Sol fará justiça.