Escreve Isabel Moreira a propósito deste post: “Não é por aí que o apanham.” Fazer de Pedro Lomba um mártir da contra-revolução parece-me um exagero (e jamais me passaria pela cabeça tal façanha). A coisa é bem mais simples: nos dias em que, nas horas vagas, não há disposição para discorrer sobre as questões magnas do país e da Humanidade, tendo a espreguiçar-me pelos jornais — e, se alguém se põe a jeito, sai um post.
Ora a crónica de Lomba é surpreendente: alguém que passou pelos “gabinetes ministeriais” insurge-se contra os “políticos puros formados nas jotas, nos gabinetes ministeriais, nas clientelas, no mercado dos lugares.”
Pode ferir a sensibilidade de Isabel Moreira ver Pedro Lomba — ó um mestre de Lisboa — metido no mesmo saco daqueles que entram pela base do partido e aspiram a ser presidentes de junta. Só que os “políticos puros” — na definição do próprio Lomba — não estão todos integrados nesta carreira paralela à da função pública. Há também aqueles que, noutro patamar, cirandam entre a política e a actividade profissional — as mais das vezes, esta dependendo daquela. São também aqueles que, ao longo do seu percurso, vão dando guinadas políticas e ideológicas para se manterem à superfície — como Lomba fez quando, depois de ter escrito textos contundentes (e convenientemente apagados) acerca da absoluta falta de perfil de Cavaco para ocupar o Palácio de Belém, aterrou, sem corar, na comissão política da sua candidatura à presidência da República.
Mas Isabel Moreira não pode afirmar que “Pedro Lomba nunca acusou de coisa alguma quem tenha exercido funções em gabinetes ou em estruturas partidárias.” Basta ler o que o cronista escreveu sobre a “última dinastia”, a dos bárbaros que emigraram da província para complicar os planos da elite da capital.
Aliás, a opinião de Lomba sobre os políticos vale o que vale. O que é de assinalar é que, para dizer o que disse, o cronista teve de recorrer a um pequeno truque, que consistiu em criar uma “dinastia” autónoma, que nasce e morre com Durão Barroso, para retirar da categoria dos “políticos puros”, vá-se lá saber porquê, o primeiro-ministro sob cujas ordens trabalhou — o citado José Manuel Durão Barroso, esse mesmo. E são essas habilidades que definem um cronista — e permitem avaliar a isenção, o distanciamento das “clientelas”, até a resiliência objectiva ao “mercado dos lugares”.
No meio desta conversa, ficou por analisar a substância do que Lomba disse. Um cientista político muito afamado no Twitter sugere, no entanto, que se trata de um plágio de uma obra de um administrador do grupo José de Mello. Isso eu não posso subscrever: apesar de uma ou outra tentativa, nunca cheguei à página 445 deste tratado escrito no remanso de Vale do Lobo.
__________
Só uma nota de rodapé sobre o apelo à sociedade civil que se vai ouvindo por aí — e de que Lomba faz eco. Valha-nos São Caetano, ao pé das manifestações a que vamos assistindo da dita sociedade civil, os partidos políticos ainda são bons instrumentos (e até escolas) para o enquadramento das pessoas e a prevenção de desmandos.
4 comentários :
a nova táctica do lomba é dissertar sobre generalidades para depois aterrar, no último parágrafo, raivosamente sobre o sócrates. o driving force do lomba é, e continua a ser, o sócrates. isto é claro por muito que a menina do jugular (por espírito corporativo?) assegure que o lomba não ataca ninguém.
mas o melhor de tudo é constatarmos que o lomba também andou pelos gabinetes ministeriais (de outra côr), em que agora cospe. o lomba tem, por isso, interesse objectivo (material!) em acabar com a actual governação, e tem sido esse o sentido das suas colunas de opinião.
Muito bem, caro Miguel Abrantes. Depois deste cristalino post, a Isabel Moreira só não vê se não quiser.
A verdade é que o Pedro Lomba até pode ser um tipo simpático, mas já tem uma careca demasiado grande para tão pouca idade.
Vasco
Isabel Moreira combina a virtude da inocência com o pecado da ingenuidade: é a prova viva de uma pessoa de grande valor na "sociedade civil" que faria uma figura risível caso entrasse desta forma desarmada na vida política!
Valha-nos Santo Isaltino, contra esta angélica "pureza" da sociedade civil. Como dizia o do anúncio: "ê tanho Feilhos!"...
É no que dá ser ingénua e pura... Ao expor aberta e displicentemente um excesso (criticável) do Miguel Abrantes, não teve o cuidado (indispensável) de se certificar de que o seu Artigo não iria ser efectivamente "lido" mais pelo que não diz, do que pelo que diz!
Lendo alguns dos comentários ao mesmo, chegamos ao essencial da questão, que é a magnífica oportunidade que Isabel Moreira oferece aos bárbaros para irromperem portas da Cidade adentro com tiradas deste jaez, muito mais "insuportáveis" do que o excesso do Miguel Abrantes! Cito um deles: «Sócrates personifica exactamente o pior que há na política, alguém "formado[s] nas jotas, nos gabinetes ministeriais, nas clientelas, no mercado dos lugares", alguém que nunca soube fazer mais nada além de malabarismos políticos, algum que não tem qualquer formaçao académica ou experiência profissional» (Nota do Transcritor e também corrector das eventuais (?) gralhas ortográficas do comentário original: a frase "não ter qualquer formação académica ou experiência profissional" significa exactamente, para esta estirpe muito vulgar de comentadores, NÃO SER LICENCIADO EM DIREITO, NEM TER EXERCIDO ADVOCACIA, OU NÃO SER SENHOR PROFESSOR DOUTOR EM ALGUMA FACULDADE DE DIREITO OU, COM BOA VONTADE E EM ANOS BISSEXTOS, DE ECONOMIA).
Ora aí está: o que uma imensa minoria (?) lê neste irreflectido e tão desastrado Artigo da Prof.ª Dr.ª Isabel Moreira é, nem mais nem menos, que SÓCRATES NÃO TEM FORMAÇÃO ACADÉMICA OU EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL E SÓ FEZ CARREIRA NAS JOTAS E NOS GABINETES MINISTERIAIS (na J. S. D., já agora, acrescentaria eu por amor à verdade)!!!
Registamos assim todos nós, sobretudo nós Engenheiros e Engenheiros Técnicos, que tirar um Curso em que seja preciso saber calcular derivadas e integrais triplos e aplicar esse Curso a elaborar Projectos de Estabilidade (que exigem cálculozinhos matemáticos que vão um pouco além das operações aritméticas básicas que os senhores juristas eventualmente retêm do Ciclo Preparatório), destinados à aprovação por entidades públicas como as Câmaras Municipais - coisinhas pouco mais que desprezíveis para quem um dia teve a suprema honra de frequentar os bares das Faculdades de Letras onde outrora comeram bitoques os actuais lentes... - é considerado alguém "sem formação" e "sem experiência profissional", não pertencendo por isso sequer à "sociedade civil", quando comparado com um jurista académico que, sobre a "sociedade civil", terá lido diversos tratados e tratado de ensinar o seu douto saber às novas gerações, para perpetuarem assim esta implícita e obrigatória qualificação de acesso à vida política que é a Licenciatura em Direito.
Obrigado, repito, mas todos nós já o sabíamos há muito.
Enviar um comentário