sábado, janeiro 09, 2010

Leituras

2 comentários :

Pedro Botelho disse...

Como o casamento é considerado um direito, porque não reconhecê-lo também aos consanguíneos em qualquer grau?

Se os do mesmo sexo não podem ser discriminados pela própria lógica que preside à instituição, porque razão hão-de sê-lo os do mesmo sangue? Será porque se receia que nasçam monstros e ocorram tremores de terra?...

E já agora, uma vez que solteiras e solteiros há que desejam ardentemente o estatuto de casados e não arranjam cônjuge, não se poderia também estender-lhes o tal apregoado "direito individual" e passar a chamar "casamento mono" ao estado civil dos solteiros lamentosos?

Porque razão não hão-de os monos ter, também eles, o inalienável direito de macaquear o casamento?

Pedro Botelho disse...

Aproveito a abertura de espírito desta Câmara Corporativa para elaborar um pouco, se me dão licença.

A viabilidade do incesto tem a ver com o universo em que decorre. Num universo numeroso, com mobilidade e poucas barreiras geográficas e sociais, o incesto muito minoritário é inofensivo do ponto de vista biológico e eugénico. E, aliás, no nosso país como no Brasil e na Bélgica, o incesto entre adultos e com o seu consentimento é legal. Porque não então o casamento consanguíneo para acabar com essa terrível discriminação?

Talvez uma pergunta ajude a responder: se se pretendesse o casamento não-discriminativo entre pais, filhos e irmãos, a propaganda a esse modo de vida na televisão fosse constante, se organizassem de 15 em 15 dias festivais e paradas de "orgulho no incesto" e se começasse a ensinar subtilmente desde o jardim de infância que a "normalidade incestuosa" é tão ou mais amorosa como as "outras normalidades", será que isso contribuiria mesmo para a saúde e bem-estar da sociedade enquanto tal?

Penso, ao contrário dos psicólogos politicamente correctos -- os outros, como os desgraçados políticos que nos governam, nem sequer ousam abrir o bico, a não ser talvez para dizer que o tema não é oportuno -- que a educação é um importante elemento formativo do tipo de inclinação sexual de cada um. Se cada um nascesse 100% homo ou heterossexual, sem lugar algum às influências formativas, como é que se explicariam as eventuais fixações em texugos, abóboras e chinelos velhos, para não ir mais longe no fascinante catálogo da discriminação matrimonial?

De modo que se não se quer estender a dignidade do casamento aos heterosexuais incestuosos sob o pretexto tout court de que "o casamento não é para isso", então nao percebo muito bem porque é que não se aplica um argumento semelhante ao casamento homossexual. É verdade que se todos os casamentos passassem a ser em linhagens exclusivas de pais, filhos e irmãos, acabávamos por ter uma população de deficientes. Bom, mas então e se todos os casamentos passassem a ser homossexuais, passávamos a ter uma população de quê...?

A simples extrapolação serve para ver onde reside a normalidade e onde a anomalia. A mais adequada posição lógica e moral deveria ser a do reconhecimento e aceitação das excepções e disfunções não atentatórias dos direitos fundamentais dos outros, e não a da promoção a ferros de anomalias e disfunções a "normalidades".

Sob o aspecto moral, como sob o aspecto da normalidade, a homossexualidade é como o daltonismo, não é como o gosto por uma determinada cor.

Imoralidade? Nenhuma. Anomalia? Com certeza.