sexta-feira, janeiro 15, 2010

Leituras

• António Perez Metello, Cozinhado a preceito:
    Quem é chamado a dar o quê para sairmos da crise e endireitarmos as contas públicas, é o que se verá no fim da negociação política do Orçamento do Estado agora encetada na Assembleia da República.
• Daniel Amaral, Nós e os outros:
    Alguém muito imaginativo e com uma maldadezinha à mistura pegou nos países do sul da Europa, avaliou-lhes o comportamento e chamou-lhes PIGS – Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain).

    Se a este acrónimo juntarmos o I da Irlanda, a fonética mantém-se e ficamos com o grupo de países da zona euro que hoje mais sofrem com as finanças públicas. A pergunta que me interessa: como é que Portugal compara com os outros?

    (…)

    Tudo ponderado, eu diria que Portugal não sai mal do confronto. Mas há dois problemas que não podemos ignorar. O primeiro é de competitividade (…). O segundo é de bom senso (…).
• Fernanda Câncio, A hipótese da calúnia:
    Ora o que sei é que enquanto Amaral era o principal investigador do caso as notícias publicadas com base em "fontes" policiais acusavam os McCann de terem ocultado o cadáver da filha e até da sua morte. O facto de, após sair da PJ, Amaral publicar um livro nesse sentido faz suspeitar de que seria uma das fontes dessas acusações. A confirmar-se, essa suspeita faria dele o rosto de um dos crimes mais cometidos e menos investigados, o de violação do segredo de justiça, e caracterizá-lo-ia como um polícia mais preocupado com o linchamento dos que considerava suspeitos que com o cumprir da lei e o apurar da verdade - uma vergonha de polícia, portanto.
• Paul Krugman, Aprender com a Europa:
    Então por que razão tantos gurus nos dão uma perspectiva tão diferente? Porque, de acordo com o dogma económico prevalecente nos EUA a social- -democracia ao estilo europeu deveria ser um total desastre. E as pessoas tendem a ver o que querem.

    Afinal, embora os relatórios sobre o colapso da Europa sejam muito exagerados, os que relatam o alto nível de tributação e os generosos benefícios sociais não o são. Os impostos, na maioria dos países europeus, vão de 36% a 44% do PIB, enquanto nos EUA representam 28%. Os cuidados de saúde universais são, lá está, universais. As despesas sociais são, na Europa, muito mais altas do que nos EUA.

    Portanto, se alguma coisa houvesse de verdadeiro nos pressupostos que dominam o debate público nos EUA - nomeadamente a crença de que mesmo um modesto aumento da taxa de imposto para os altos rendimentos e benefícios sociais para os menos favorecidos se traduziriam num grave desincentivo ao trabalho, ao investimento e à inovação - a Europa seria uma economia tão estagnada e decadente como a pintam. E não é.

    A cartada da Europa é frequentemente jogada como aviso à navegação, como demonstração de que se se tentar criar uma economia menos brutal de modo a zelar melhor pelos cidadãos quando eles estão na mó de baixo, se acaba por impedir o progresso económico. Mas o que a experiência europeia nos demonstra é exactamente o oposto: justiça social e progresso podem andar de mãos dadas.
• Pedro Adão e Silva, A Grécia não é aqui:
    Neste campeonato, a Grécia leva vantagem. Acontece que, sendo a nossa situação muito complexa, é, ainda assim, diferente da grega. Para um défice de 8% em Portugal, a Grécia apresenta 12,7%; para uma dívida pública de 77%, os gregos têm 113%. Temos também um lastro recente de capacidade de redução do défice e de reforma em domínios relevantes que a Grécia não apresenta. O que explica, como sublinhava o "Finantial Times", que, por comparação, a Grécia tenha um problema sério de credibilidade. Ainda assim, a Grécia tem uma vantagem política: um governo suportado numa maioria parlamentar que, contudo, coexiste com níveis de contestação extraparlamentar bem maiores que os nossos.

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