sábado, fevereiro 20, 2010

Leituras [3]

• Nuno Saraiva, Indignação selectiva:
    Começo a acreditar que a liberdade de expressão está, realmente, ameaçada. Que estamos, de facto, cada vez mais condicionados naquilo que dizemos e escrevemos em público. Mas em sentido inverso do que parece ser hoje a moral dominante. Isto é, quem se atrever a não criticar, atacar, arrasar, insultar ou até mesmo destruir o primeiro-ministro em público leva imediatamente com o selo de "socratista" ou "socranete". Pior, no caso dos jornalistas e aparentados, é-se logo apelidado de "jornalista amigo". Por mim, recuso-me a integrar este rebanho, que, ele, sim, significa uma ameaça à liberdade de pensamento e de expressão. E é quando estas teses fazem caminho que a democracia e o Estado de direito ficam ameaçados.

1 comentário :

Bettencourt de Lima disse...

A direita, ou melhor, aquilo a que se convencionou chamar a direita em Portugal, há muito que está convencida não conseguir chegar ao poder através da luta politica escorreita, ou seja pela força das suas ideias e convicções. Nem pela conjugação de votos CDS/PSD, muito menos através de um único partido, no caso, o PSD.
Dispondo de um vasto conjunto de meios de informação disponíveis, recheados de jornalistas cuja ascensão na carreira depende da boa vontade dos detentores destes grupos, para não referir o vasto conjunto de precários, tem recorrido a campanhas sistemáticas de manipulação da opinião pública visando arredar do poder aqueles que se oponham à histórica subjugação do Estado aos seus interesses. O canal público de televisão não escapa a esta influência, pois está controlado por poucos jornalistas, que, seja por razões familiares, de proximidade partidária ou para escaparem à acusação de falta de «isenção», transformaram-se em câmara de eco da corrente dominante. Usam a conhecida técnica de acusarem o adversário ou inimigo político daquilo que eles próprios promovem. Com esta técnica, arrasaram Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso e, desde 2005, ensaiam o mesmo com o PM. Com um sucesso muito relativo no segundo caso, pois apesar de tudo as sondagens não lhes são favoráveis. Mas insistem através da exploração ad nauseam do método. As audições na AR sobre a liberdade de imprensa são um pretexto para manter a pressão.
Todavia, a sua estratégia está eivada de um erro de análise grave. Em democracia, os representantes do povo são eleitos através do voto e não estão sujeitos ao plebiscito de jornalistas que, na maior parte das vezes, não conseguem libertar-se dos interesses dos respectivos patrões por mais que o apregoem. Para mudar de governo, no caso em apreço, existem os seguintes mecanismos: moção de censura, moção de confiança e dissolução do Parlamento pelo PR. Sabe por que a primeira e terceira não são utilizadas? Porque têm medo de o actual PM merecer novamente a confiança dos portugueses.
No recato da mesa de voto, a população decide com sentimentos, percepções e simpatias que não são totalmente controláveis. Um dos «problemas» de um regime democrático.

Quem percorre os jornais na net vê como são apreciados os poucos jornalistas que lutam para manter a decência.