terça-feira, fevereiro 23, 2010

Lição de intoxicação



Voltemos à manchete da edição de hoje do Público. A primeira página é um dos melhores exemplos de manipulação jornalística de que há memória. Sem exagero, o título e os subtítulos seriam dignos de figurar em qualquer curso de intoxicação da opinião pública ou de contra-informação. Veja-se então qual é a mensagem:
    1. Em primeiro lugar, diz o Público que José Sócrates não foi acusado. É claro que o primeiro-ministro nunca poderia ser acusado, porque jamais foi constituído arguido no processo. Por isso, não tem nenhum sentido dizer que Sócrates não foi acusado. Para existir o dilema processual de acusar ou não acusar, era necessária a prévia constituição de arguido.

    À falta de melhor, o Público recorre ao conceito de suspeito, que não é sujeito processual nenhum e só interessa na medida em que é o substrato material da constituição de arguido. Mas, ao refugiar-se nessa figura, o jornal não corre o risco de ser desmentido. Como não há constituição de suspeito, Sócrates é suspeito porque o Público acha que sim.

    2. O primeiro subtítulo é ainda mais malicioso. Diz o Público que houve arquivamento dos indícios conta Sócrates. Nem é preciso ser jurista, basta ter apenas o mínimo respeito devido à língua portuguesa para compreender o alcance deste disparate.

    “Arquivamento de indícios” é coisa que nunca houve, não há, nem haverá em tempo algum, de acordo com a lei e a natureza das coisas. Só se arquivam processos. Se existisse um processo contra Sócrates, é claro que poderia ser arquivado. O problema é que não houve e, portanto, a tese do arquivamento é absurda — para não dizer pior.

    3. Para terminar o bouquet, o Público afirma que “outros suspeitos” vão ser acusados. A insídia continua presente. A expressão “outros suspeitos” serve para reafirmar que Sócrates é suspeito, mas não esconde o truque da operação. É que só os arguidos, nessa qualidade, podem ser realmente acusados.
Por tudo isto, sinceros parabéns ao Público pelo belo exercício de manipulação e contra-informação. E sentidos pêsames ao jornalismo por esta inqualificável instrumentalização.

4 comentários :

james disse...

Para a próxima mande-se os jornalistas do Público fazer um estágio de processo penal ao portal da "loggia"...

Anónimo disse...

Isto merece um arquivamento na secção 'pedras de tropeço' do Jornalismo-Porco.

Anónimo disse...

off post: é evidente que a MFL sabia das escutas e do negócio. Diz ela que não é crime ser informada. Mas é má fé - para não dizer uma coisa chata para uma senhora daquela idade - o que foi e é a sua posição e a do PSD.
Eu sempre achei isto. Sempre achei que ela sabia das escutas e que era preciso seguir essa pista para desarmadilhar a argumentação desonesta do PSD.
Espero que se venha a saber mais verdades nas próximas horas e dias... vai ser giro.
E provavelmente vai ter de engolir aquela desfaçatez e arrogância com que chama mentiroso ao PM.
E logo ela...
Pedro M

Ze Maria disse...

Ou eu ando muito enganado ou a estratégia do Belmiro passa por continuar na "pasquinice" iniciada pelo Zé Manel e tentar ver se algum otário lhe compra o "orgão"...para acabar com aquilo e ele arrecadar "algum" que possa minorar os muitos prejuízos que o velho, que parece ser conhecido como um "unhas de fome" mas é igualmente uma raposa velha, já malbaratou ali. "É preciso avisar a a malta..." Aquilo dado é caro!!