A rendição do Daniel Oliveira à democracia burguesa (a fazer fé no Carlos Vidal) tem efeitos surpreendentes. Veja-se este naco de prosa: “Bloco de Esquerda e PSD entenderam-se para este objectivo [criação da comissão de inquérito parlamentar]. Não sendo um entendimento político [sic], nada tem de estranho.” O Daniel acha natural que o aggiornamento da esquerda se faça à direita, através destes acordos com o PSD.
Mais extraordinário é que nem a experiência do próprio parlamento faça ver ao Daniel que as conclusões de todas e quaisquer comissões criadas no âmbito da Assembleia da República têm sido marcadas pelas maiorias conjunturais que, num dado momento, detêm o poder: “Se há, como dizem, uma campanha contra José Sócrates, o PS é o mais interessado na revelação de toda a verdade e na possibilidade dos ofendidos se defenderem das acusações que lhes são feitas.” Como se vê, o Daniel duvida de que haja uma campanha contra Sócrates — mas, no caso improvável de que possa mesmo existir, os partidos parlamentares não têm nada a ver com isso, uma vez que serão eles a avaliar a coisa. O Daniel Oliveira é de uma candura comovente.
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