- ‘No passado, quando havia moedas nacionais, a solução era simples. Bastava desvalorizar o que se desejasse e esperar-se que isso não provocasse mais desequilíbrios. Esse tipo de solução acabou por se mostrar pouco consistente e foi isso, aliás, que levou à criação do euro.
Há alternativas à desvalorização que passam sobretudo, no curto prazo, pela redução dos salários nominais. Ora isso não é bem uma solução, pois só pagariam a crise os menos abonados dos países menos abonados.
A solução para a crise passa pela transferência de capitais dos países com excedentes nas suas balanças externas para os países com deficits. Não há outra solução para a Europa do euro se ela quiser, como aparentemente os seus cidadãos ainda querem, ser uma união cada vez mais próxima.
As transferências financeiras dentro da Europa são obviamente boas para a economia europeia no seu todo. Que não haja confusão entre transferências financeiras e transferências de riqueza. É a velha lição de Keynes (não confundir com keynesianismo), que não foi seguida no rescaldo da primeira Guerra Mundial, mas que foi seguida no rescaldo da segunda.
Tais transferências têm, todavia, de ser enquadradas num determinado discurso político, têm de ter um enquadramento institucional adequado, e têm de ser feitas de forma a impedir o benefício do infractor. Mas com esse tipo de problemas pode a União Europeia bem, pois a sua história é obviamente marcada pela procura dos bons enquadramentos para que haja esse tipo de transferências.
Foi assim com o Plano Marshall, com a reestruturação da indústria do carvão e do aço, com a política agrícola comum, e com a adesão dos países mais pobres. Tudo isso foi fruto da necessidade, não de visões particularmente argutas.
Só não tem sido assim com a criação do euro - porque até hoje não foi necessário. Mas agora é claramente necessário e podemos esperar que a solução venha daí. Mas, claro, com um custo.
O custo será a perda de mais alguma soberania. Ninguém esperaria que as transferências fossem feitas sem a imposição de medidas de disciplina aos países receptores.
Quem está preparado para isso? Esperemos que muita gente. Afinal, a alternativa é o domínio das políticas guiadas pela estrita contabilidade financeira, que não é mais do que uma forma de nacionalismo - e de proteccionismo - económico.’
1 comentário :
«A solução para a crise passa pela transferência de capitais dos países com excedentes nas suas balanças externas para os países com deficits» diz o ilustre economista.
Pois. Ao menos «transferir» sempre é mais directo que o clássico «redistribuir», o eufemismo favorito do conhecido economista José do Telhado. Mas talvez interesse saber o que os Alemães e restantes «excedentários» pensam das «soluções» deste tipo. Ou não?
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