domingo, março 07, 2010

Leituras [4]

• Leonel Moura, O golpe de estado:
    Como tanta coisa em acelerada mudança a técnica do golpe de estado também está em franca evolução. Com exceção de alguns estados falhados, os golpes à Pinochet passaram de moda. Já não é preciso meter tanques e soldados na rua para tomar de assalto o poder. Já não é preciso derramar sangue, assassinar e torturar. Hoje, no mundo desenvolvido, existem outros meios bem mais poderosos para usurpar o que foi conquistado por via legítima e democrática.

    Os golpes "civilizados" são muitas das vezes de tipo palaciano. Sucedem no interior das elites dirigentes e raramente chegam ao domínio público.

    (…)

    A técnica do golpe de estado em democracia tem evoluído com recurso à manipulação dos chamados contrapoderes. Sobretudo da justiça e dos media.

    (…)

    Mas, numa sociedade crescentemente dominada pelos media, são estes que vão jogando um papel determinante nos processos de conquista ilegítima do poder. De tal modo que se fala hoje de um novo conceito, precisamente, o de golpe de estado mediático.

    Militar ou civil, fraudulenta ou formal, judicial ou mediática, a metodologia é sempre a mesma. Cria-se desordem e insegurança sob qualquer pretexto, para depois, os mesmos que estão na origem da instabilidade se apresentarem como salvadores da Pátria.

    Em Portugal estamos a viver o mecanismo. A tentativa de golpe de estado em curso tem seguido a cartilha com denodo. Tudo tem servido para descredibilizar o primeiro-ministro e gerar uma sensação de grande instabilidade política. Desde coisas claramente insignificantes, como a licenciatura de José Sócrates, até insinuações graves de corrupção, abuso de poder e até essa pérola que é o atentado ao Estado de Direito por via telefónica. Os meios são também conhecidos. Cirúrgicas fugas de informação; quebra constante do segredo de justiça; devassa da vida privada; agentes da justiça prontos a infringirem a lei que deviam defender; jornalistas dispostos a ampliarem a mais irrisória intriga ou mesmo a se tornarem agentes diretos da manipulação; intensa promiscuidade entre políticos, jornalistas, polícia e magistratura.

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