A Dr.ª Manuela já repousa no segundo balcão, lá junto à poltrona do deputado Pacheco Pereira. O lendário estratega da Marmeleira, ainda combalido, faz um compasso de espera para ver se pode enterrar mais um líder, entretendo-nos, por ora, com temas a cheirar a mofo: O amador de livros perante as bibliotecas a morrer. Que deputados mais disciplinados.
Entretanto, procura-se um líder para o grupo parlamentar laranja. Tarefa ciclópica num partido com a tradição de fazer o grupo parlamentar em noites de nevoeiro. O nome mais falado é o do companheiro Miguel Macedo — muito embora não seja “uma escolha livre de defeitos” [sic]. É que, veja-se bem a ousadia do ajudante de Marques Mendes, os “passistas lembram que não fez parte da comissão de honra de Passos e só lhe declarou o seu apoio a cinco dias das directas — quando as sondagens já adivinhavam o vencedor. E notam que os ferreiristas nunca lhe deram nenhum lugar de relevo.”
Por tudo isto, há uma outra hipótese que começa a ganhar terreno: “a escolha pode cair em Luís Menezes”. É meio caminho andado para que o gang do multibanco faça as pazes com as loiras do regime.
Muito bem faz o-Menezes-crescido em se distanciar da política e concentrar esforços na “batalha económica”:
- “Mas passemos a exemplos perceptíveis.
A partir do momento em que a abertura de fronteiras na Europa se conjugou com a globalização e com a passagem do futebol/desporto a futebol/espectáculo/negócio, o futebol português passou da primeira para a quarta divisão europeia. Efeito perverso do tal minúsculo e deslocado mercado interno.
Mas imaginemos que quatro dos maiores clubes portugueses jogavam uma liga ibérica.
Instantaneamente, transformavam-se em quatro das maiores "empresas" do mundo do sector. Passavam a ombrear com o Real e com o Barça em receitas televisivas, aproximavam-se deles em receitas de merchandise e de outros direitos comerciais - vendidos como se sabe a uma escala planetária.
Lisboa, Porto, e Braga ou Guimarães, passavam a ter, todas as semanas, hotéis, restaurantes, comércio e serviços, inundados de catalães, madridistas, bascos, valencianos e galegos, que acompanhariam em massa s suas equipas. O desenvolvimento turístico seria fulminante. As nossas melhores equipas estariam ao nível das "empresas/grupos económicos", Real, Manchester ou Milão.
Perdíamos identidade? Nem pensar. Reforçávamo-la, fruto da auto-estima resultante do sucesso a uma escala mundial. Mais vitoriosos, mais orgulhosos e assim ainda mais patriotas e saudavelmente nacionalistas.
Eu sei que isto iria causar engulhos a meia dúzia de dirigentes federativos e das "liguinhas" que andam por aí, que passariam a passear menos pelo mundo e que continuam agarrados à máxima de que mais vale a pena ser rainha cinco minutos do que duquesa um século.
Enfim. O futuro de prosperidade ainda está nas nossas mãos.”
3 comentários :
Excelente post com muito humor!
Mas alguém sério tem dúvidas do realismo das palavras de Menezes? Uma coisa é as pessoas saberem-no e calarem-se, porque não é popular, e outra é saberem-no e falarem abertamente mesmo sabendo do antagonismo que colhe naturalmente no povo. O futebol é apenas o paradigma de uma integração ibérica que só traria benefícios para a população portuguesa, como já é evidente em zonas fronteiriças em que o estado portugues só está presente para cobrar impostos.
Uma Joana menezista?
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