“Ó SENHOR ENGENHEIRO, VEJA AQUI OS NÚMEROS, POR AMOR DE DEUS...” — ignorância e demagogia em doses destas são perigosas para a economia nacional

Estes 27 minutos de debate no “Sinais de Fogo” de ontem constituem um verdadeiro serviço público. Frente-a-frente, Henrique Neto, representante do Manifesto dos 33 contra a estratégia de aposta nas renováveis, e Carlos Pimenta, especialista em questões de energia e ex-secretário de Estado do PSD.

Henrique Neto começa logo à defesa, a dizer que não é “especialista” na matéria, mas isso não lhe retira confiança para dizer o que Carlos Pimenta, desesperado, classifica a dada altura de “barbaridades”.

Carlos Pimenta não teve de coragem de chamar a Henrique Neto o que ele é efectivamente: um extraordinário ignorante nesta matéria. É essa ignorância que, com doses industriais de demagogia à mistura, tem tentado intoxicar a opinião pública. Para Neto, o modelo era, pasme-se, a estratégia do Dr. Salazar em relação aos recursos hídricos.

Não espanta, por isso, que seja a favor de estratégias proteccionistas de imposição de uma “sobretaxa” às importações chinesas e outros países que não tenham um modelo energético semelhante ao nosso. Vejam a pérola: em vez de Portugal acelerar na inovação e estar na linha da frente de uma estratégia simultaneamente económica e ambiental que garante independência energética e reduz os custos a prazo, Henrique Neto defende que abandonemos o “fundamentalismo” com as renováveis e taxemos os chineses, malandros (que, afinal, parece que foram entretanto mordidos pelo mesmo bicho e desataram a produzir e a instalar aerogeradores pelo país fora)¹.

Não menos extraordinário é também o facto de que um dos “casos de sucesso” da indústria portuguesa dos últimos anos — segundo Carlos Pimenta, que não consta estar a soldo do governo actual — seja ignorado e destruído por um grupo de indivíduos que se alimenta de passar a vida a dizer que a economia portuguesa caminha para o abismo por não ter nada a que se agarrar.

Enfim, Henrique Medina Carreira que se cuide, porque Henrique Neto dá mostras de cobiçar o seu lugar de vendedor de banha da cobra.

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¹ Era igualmente interessante saber o que os ilustres economistas do manifesto pensam da brilhante ideia do empresário Henrique Neto.