- ‘Recapitulemos. A actual crise económico-financeira desencadeia-se a partir dos Estados Unidos com o rebentamento da bolha do "subprime" (excesso de crédito hipotecário concedido pela banca + risco elevado + ganância dos agentes de mercado + desinformação dos consumidores), a que se sucede a falência do banco Lehman Brothers. A partir daí, a grande velocidade, a crise invade a Europa, pondo a nu as fragilidades do seu sistema bancário, o descontrolo das contas públicas de alguns países e a ausência de mecanismos europeus de solidariedade financeira para a defesa da sua moeda e dos momentos mais difíceis dos seus Estados-membros.
A primeira resposta dos europeus ao ciclone foi salvar a banca - na verdade, a que menos merecia ser salva, como os casos BPN e BPP ilustram -, lançar programas apressados de ajuda social e ressuscitar artificialmente Keynes, proclamando o investimento público como o remédio seguro contra a descrença e a inacção dos investidores privados. Durante algumas semanas, a receita parecia poder funcionar. Mas eis que, mais rapidamente do que se poderia supor, a mão invisível regressa em força e com ela os seus agentes mais cruéis - os mercados financeiros e as suas bactérias assassinas (as agências de "rating"). Como na natureza, quando recuperam do seu torpor, estão mais fortes.
A contaminação alastra a uma velocidade estonteante, começando por atingir os membros de estrutura económica mais débil e que nunca tinham prestado muita atenção à saúde das suas contas - a Irlanda e a Grécia primeiro, todo o Clube Med depois. O perigo de contágio a outros - Reino Unido, Bélgica ou a própria França - é iminente. A coesão da Zona Euro fica em perigo, impondo-se medidas drásticas aos membros mais afectados. O que se seguiu foi uma injecção cavalar de antibióticos, cujos efeitos estamos ainda longe de poder antecipar. E eis-nos chegados à austeridade.’
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