- ‘O dr. Pacheco Pereira decidiu fazer na revista Sábado um conjunto de comentários sobre a criação artística contemporânea em Portugal. O teor dos comentários indicava essa obsessão que o político tem por controlar tudo o que aparece no espaço público e revelava nos mesmos comentários que o seu mundo de referências culturais para a arte é um mundo decadente. O dr. Pacheco Pereira, que é o político que mais espaço ocupa na comunicação social, tem um desejo incontido de querer arregimentar o país. O dr. Pacheco Pereira quer arregimentar a relação dos jornalistas com os políticos (lembramo-nos todos do triste episódio quando, enquanto líder da bancada do PSD, quis impor normas de acesso dos jornalistas aos deputados da AR), quer impor quais são os bons e os maus jornais, quer decidir quais as boas e as más notícias. No programa que tem na SIC, supostamente sobre comunicação social, é constrangedor ouvir o elevado número de lugares-comuns que profere sobre jornalismo, sem apresentar qualquer fundamentação teórica, quer dos cânones das ciências da comunicação, quer das teorias mais recentes sobre comunicação em espaço público. Muito recentemente, o dr. Pacheco Pereira achou que também tinha algo a dizer sobre como arregimentar as artes em Portugal, em particular sobre todas as actividades artísticas que não conhece. E porquê? Porque se considera a si próprio um legislador de poéticas possíveis e autor de expressões que acha que são de um enorme contributo para a vida intelectual portuguesa, como esse exemplo de uma finura invulgar que é a palavra "culturalês", que ele criou para aplicar à linguagem utilizada por artistas. E vai daí, e do lugar da sua decadência cultural, tratar de opinar sobre o discurso das artes performativas em Portugal.
Ao comentar como comentou um conjunto de grupos e de espectáculos o dr. Pacheco Pereira demonstrou o desconhecimento que manifesta em tudo o que diz respeito à cultura e à arte contemporâneas. Pese embora não ver os espectáculos sobre cujos anúncios e o conteúdo se pronuncia, e pese embora, como o afirmou, ver filmes em casa, em DVD, do mesmo modo que alguém pode dizer que viu a Gioconda num calendário, o dr. Pacheco desta vez decidiu investir contra os artistas portugueses, porque não entende como estes possam ser subsidiados pelo Estado e pelos contribuintes, quando ele acha ridícula a linguagem por estes utilizada. O dr. Pacheco Pereira, que parece desconhecer que nos países da União Europeia, no Canadá e nos EUA a maioria das actividades produtivas são subsidiadas das mais diversas formas: da agricultura à investigação científica. É um defensor dos mercados, desde que estes se comportem conforme ao seu mundo próprio, mas de facto nada sabe do mercado das artes, nem de subsídios como estratégias possíveis de criação na formação, nem de outras formas de investimento na criação de massa crítica. No seu mundo decadente os artistas e as personagens históricas nascem já como génios ou como personagens históricas, não experimentam, não falham, não erram, não persistem. A ignorância do dr. Pacheco Pereira é grande no que diz respeito às artes contemporâneas e à evolução que as suas múltiplas formas têm tomado desde as vanguardas da década de 1970. E por isso estranha que se conceba e realize um espectáculo para cinco pessoas. Há espectáculos para cinco, para um, para dez ou para centenas de espectadores e não é pela quantidade de público que se determina a sua qualidade, nem tão-pouco há uma relação directa entre custo e qualidade. O dr. Pacheco Pereira deveria saber que a arte exige um pensamento sofisticado e que, a pronunciar-se sobre ela, deveria ter estudado, visto, investigado. Talvez, se tivesse lido alguns textos de Hal Foster, Didier-Huberman, Jacques Rancière, Giorgio Agamben, Penny Phelan, Susan Foster, Homi K. Bhabha, André Lepecki, ou mesmo alguns de autores mais antigos, como algumas páginas de Crítica da Faculdade de Julgar, de Kant, no que diz respeito à autonomia da arte ou Organon de Brecht no que diz respeito aos heróis demasiado humanos, não tivesse proferido tão soberbas opiniões. Afinal, toda avaliação do dr. Pacheco Pereira sobre os artistas que fazem arte contemporânea baseia-se em provas, em argumentação? Não, é apenas a sua opinião.
(…)
Não vivera o dr. Pacheco Pereira no seu mundo decadente e politicamente autocentrado e deveria admitir a sua enorme ignorância em muitas matérias, e em arte em especial, e então talvez começar por estudar, ler e voltar a estudar e depois ver espectáculos, e cinema, e ouvir música numa sala de concertos, e gostar ou desgostar, entusiasmar-se ou angustiar-se, emocionar-se, se ainda for capaz, e admitir a estranheza ou exaltar-se com a beleza que pode emergir no mundo de hoje, e então pronunciar-se. De outro modo tudo não passará de uma visão decadente sobre o mundo, revelando uma obscenidade preconceituosa contra a produção artística contemporânea.’
6 comentários :
Uma múmia que continua a dar conselhos e a falar pelos cotovelos. Nem os egípcios conseguiram melhor.
pois é, o que o tipo que escreveu este artigo no público se esqueceu de comentar é que esses grupitos vivem à custa dos nossos impostos. é possível que ele tb por isso esta resposta idiota. grandes parasitas. o mais engraçado é que esses indivíduos, tão solidários, quando lhes falaram em cortes vieram logo manifestar-se. claro, o resto do povo que se foda. mais impostos, cortes nos salários. a eles, os intocáveis, nem pensem tirar-lhes o que lhes pagamos. coitadinhos.
já agora, eu vejo melhor cinema em minha casa que nas salas de cinema. mas imagino que nem todos tenham um home cinema digno de esse nome. azar.
O artigo do Pacheco Pereira claro que é a opinião do próprio como o artigo do António Pinto Ribeiro é a opinião do autor, sobre o artigo do PP… Bastaria citar uma dúzia de nomes e a opinião de PP deixaria de ser “soberba”? No entanto o que dizer da afirmação “…ver filmes em casa, em DVD, do mesmo modo que alguém pode dizer que viu a Gioconda num calendário…” senão que o mesmo é um insulto aos portugueses que por falta de meios apenas poderão ver filmes em casa (às vezes de outros) ou que preferem ver a Gioconda num calendário quando não podem ver a original.
Gostaria, para não ser uma mera opinião, que o autor tivesse indicado uma actividade produtiva (em qualquer parte do mundo) que seja subsidiada para produzir peças (carros, móveis, instrumentos musicais, o que for) para 5 pessoas, alimentos para 5 pessoas, investigação científica que se dirijam a 5 pessoas…
Esta prosa não passa de um ataque ad hominen sem pés nem cabeça, tão vazia em argumentos como rica em ódio e verborreia gongórica. Lamentável. Pacheco Pereira, goste-se ou não, é uma voz importante do nosso espaço público e reflecte o pensar e o sentir de muita gente, mesmo que dele se possa discordar de vez em quando. Fui jornalista 15 anos e não concordo, de todo, que sobre os média PP se limite a debitar "lugares-comuns". Aliás, regra geral é certeiro. E a violência deste discurso é despropositada.
Pacheco Pereira é o mais lídimo representante da mentalidade inquisitorial lusitana - ainda por cima refinada por um estágio estlinista na idade adulta. nessa tradição, penso que não tem rival.
É impressionante como as pessoas passam directamente da indiferença à agressão.
Pacheco Pereira tem essa qualidade dos comentadores de saber um bocadinho de tudo. E esse defeito de não saber, no fundo, de nada. Mas ele não perde a graça!
E também não se pode exigir a certas pessoas — que não sabem um bocadinho de tudo, mas que sabem muito sobre qualquer coisa — que não se irritem, de vez em quando, com o não historiador, não filósofo, não jornalista, não escritor, não deputado, não político... com o comentador Pacheco Pereira, quando ele decide dar largas à sua imaginação.
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