segunda-feira, novembro 01, 2010

O Palma que não vai a votos quer governar



O artigo, se assim lhe posso chamar, por facilidade de expressão, que o sindicalista João Palma publica hoje no Correio da Manha é o exemplo mais acabado que podemos imaginar de ignorância, má-fé e incompreensão do que é a justiça.

Comecemos pela ignorância. Palma diz que não existe, em Portugal, possibilidade de responsabilizar os políticos pelos actos que pratiquem na sua actividade. Nada é mais falso. A Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro, aprovou o Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas. Hoje, os titulares de cargos políticos e os deputados incorrem não apenas em responsabilidade penal, mas também no dever de indemnizar, em sede de responsabilidade civil, pelos actos e omissões que pratiquem no exercício das funções administrativa, política e legislativa.

Até há hoje quem diga que o Governo de José Sócrates foi longe de mais ao prever níveis de responsabilidade que podem coarctar a discricionariedade legislativa e, por isso, podem pôr em causa a organização democrática do Estado.

Mas talvez Palma se queira referir não propriamente à previsão legal da responsabilidade, mas, antes, à responsabilização efectiva. Ora, como Palma muito bem sabe, são os tribunais, rigorosamente independentes de acordo com a Constituição, que garantem essa responsabilização. Quer Palma acusar, afinal, os tribunais, os juízes e ou magistrados do Ministério Público que alegadamente representa pelos insucessos do julgamento de casos de responsabilidade?

Palma quer lançar a confusão, numa situação especialmente difícil para Portugal, em termos económicos e sociais. Em vez de assumir as suas responsabilidades e apelar aos filiados no Sindicato dos Magistrados do Ministério Público para que compartilhem os sacrifícios da população, Palma atira lama para o ar. Como sempre, esquece-se de um pormenor: é que essa lama há-de cair-lhe em cima.

Há-de cair-lhe em cima essa lama, porque Palma tem sido o campeão das violações ao princípio da separação de poderes e das investidas contra o Estado de direito. Foi ele que instigou por todos os meios, enquanto presidente do sindicato, a ridícula mas perigosa tentativa de inventar um crime de atentado contra o Estado de direito “cometido” pelo primeiro-ministro. Foi ele que congeminou as pressões que o primeiro-ministro e o ministro da Justiça teriam exercido contra magistrados no caso Freeport. Foi igualmente ele que conduziu uma estratégia para eliminar o procurador-geral da República por uma simples razão: não lhe faz os fretes que quer, para afrontar o Governo e conseguir protagonismo.

Talvez Palma consiga alguma popularidade com estes escritos irresponsáveis e demagógicos junto de um ou outro magistrado menos informado. Mas pode estar certo de que o julgamento que dele se fará pelos graves atropelos contra o seu próprio estatuto dos magistrados do Ministério Público não será nada lisonjeiro.

5 comentários :

os pulhas disse...

A pedido dos "duques e quejandos" comecemos a cortar nos magistrados do MP, dado que há excesso dessas figurinhas de acordo com os estudos que se conhecem.
Vamos lá, cortem já, sempre se poupam uns milhões e tenho a certeza que não se vai notar nadinha a sua falta.

o Binoculo disse...

Com estes comportamentos,de quem se devia limitar a trabalhar administrando a justiça por todo o pais,não me admira,que muita gente, farta desta bandalheira, começe a gritar para porem esta malta na ordem. não falta muito, para que comportamentos reprovaveis aos nossos olhos, por parte da sociedade civil, passem a ser normais,depois do que estamos assistindo, com Palmas e companhia...

Anónimo disse...

Abrantes, continua impagável, como sempre!
E porque não substituir os magistrados pelos garotos que actualmente se divertem, com os excelentes resultados de todos conhecidos, a brincar aos governos?
Seria como que uma ampliação do recreio, como prémio pelo empenho e fidelidade demonstradas.

Anónimo disse...

O Dr. Palma não é para levar a sério. O perigo dessa gente é que não tem sentido de serviço público. Julgam-se donos dele e acima de qualqura censura.

Anónimo disse...

legislativa, jurisdicional e administrativa...

E não política...

talvez clicar em cima do link dê uma ajuda...

Responsabilidade civil por actos da função política... he he.