quarta-feira, novembro 10, 2010

Pescadinha de rabo na boca

• Nouriel Roubini, Só os fracos sobrevivem:
    'No seio da Zona Euro, este problema é exacerbado pelo facto de a Alemanha, com os seus enormes excedentes, poder viver com um euro mais forte, ao contrário do que sucede com os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Os PIIGS, tendo em conta os seus elevados défices externos, precisam de uma forte depreciação para conseguirem reentrar na via do crescimento, numa altura em que estão a implementar penosas reformas orçamentais e outras reformas estruturais.

    Um mundo onde os países excessivamente gastadores precisam de reduzir a procura interna e impulsionar as exportações líquidas, enquanto os países com excesso de aforro não desejam diminuir a sua dependência do crescimento sustentado pelas exportações, é um mundo onde as tensões cambiais começam, inevitavelmente, a fervilhar. Aparte a Zona Euro, os Estados Unidos, o Japão e o Reino Unido precisam de uma moeda mais fraca. Até mesmo a Suíça tem estado a intervir para depreciar o franco suíço.

    Entretanto, a China tem estado a intervir fortemente para resistir à apreciação do renminbi e, assim, conseguir manter o seu desempenho em matéria de exportações. Consequentemente, a maioria das economias dos mercados emergentes preocupa-se de igual forma com a valorização cambial, com receio de perder competitividade em relação à China, intervindo assim de forma agressiva e/ou impondo controlos de capital para travar a pressão altista das taxas de câmbio.

    O problema, está claro, é que nem todas as moedas podem estar fracas ao mesmo tempo: se uma está mais fraca, uma outra terá de estar - por definição - mais forte. Da mesma forma, nem todas as economias podem melhorar as suas exportações líquidas ao mesmo tempo: o total global é, por definição, igual a zero. Por isso, a guerra da desvalorização competitiva em que nos encontramos é um jogo de soma nula: o ganho de um país corresponde à perda de um outro país.

    (...)

    Se a depreciação (apreciação) nominal e real dos países deficitários (excedentários) não acontecer, a diminuição da procura interna nos países deficitários e a incapacidade dos países excedentários de reduzirem o nível de poupanças e de aumentarem o consumo levará a uma escassez global de procura num contexto de sobreabundância de capacidade. E isso alimentará ainda mais a deflação global e os incumprimentos no pagamento da dívida pública e privada nos países que estão endividados, o que, em última instância, acabará por minar o crescimento e a riqueza dos países credores.'

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