segunda-feira, novembro 15, 2010

"Sex & Drugs & Market Role"

• Luís Nazaré, O mundo ao contrário:
    Se o espírito europeu fosse algo de tangível, se os mecanismos de solidariedade que se julgava existirem na UE funcionassem, os efeitos da crise seriam certamente minorados. A Califórnia, a região mais progressiva do planeta, convive sem angústias de maior com uma situação de bancarrota nas contas públicas. Por lá, a Reserva Federal faz o seu trabalho de casa, criando dinheiro e comprando dívida (tal como acontece no Japão). Por cá, a Sr.ª Merkel cuida da sua popularidade doméstica e o Banco Central Europeu compraz-se na sua função de almoxarife, assistindo placidamente ao garrote imposto pelos "mercados financeiros" aos países mais débeis e à absurda apreciação do euro face ao dólar, que só convém aos alemães. Com o virar do século, os nossos colegas teutónicos sentiram que já tinham expiado as suas culpas na 2ª guerra mundial e que os deveres de solidariedade caducaram. Teremos que nos amanhar, com ou sem a Alemanha.

    A fragilidade do edifício europeu e a hiper-dependência dos Estados face aos agentes financeiros não passa despercebida aos olhos de muitos economistas internacionais. Provocatoriamente, Paul Krugman caracteriza a actual situação como "Sex & Drugs & Market Role", destacando o papel pernicioso e interesseiro das agências de "rating", onde pontificam as duvidosas competências de "analistas" de 25 anos, peritos em "spreadsheets", automóveis de luxo e outras coisas mais. Suspeito que, na sua esmagadora maioria, não possuam mais do que uma vaga ideia de onde se situa Portugal e que julguem que o Banco Espírito Santo é um veículo duvidoso do Vaticano. A boa notícia é que as críticas à actuação das agências têm vindo a acentuar-se, vide no Financial Times, abrindo uma nesga de esperança ao surgimento de "ratings" produzidos na Europa por gente credível. Por ora, resta-nos o Dagong.

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