sexta-feira, dezembro 09, 2005

A água e a degradação do Ambiente [1]

Muito se tem falado ultimamente dos problemas do ambiente. Apesar de disso, o ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional está desaparecido — antes mesmo de qualquer combate.

Não tendo sido noticiada sua demissão, procurámo-lo por todo o lado — e estamos agora em condições de anunciar que encontrámos um vestígio difuso de que está no pleno exercício de funções: a sua assinatura consta do Despacho n.º 24633/2005, publicado na II Série do Diário República de 30 de Novembro, em que é nomeado Amílcar Augusto Theias “para presidir ao conselho consultivo do Instituto Regulador de Águas e Resíduos”, acto justificado pelo “reconhecido mérito (…) para o desempenho das funções inerentes ao cargo.”

Depois, pensando melhor, surgiu-nos a dúvida: poderia tratar-se de uma nomeação fictícia para dar a aparência de que o ministro continua em funções. Fomos investigar: afinal, quem é esse tal Amílcar Augusto agora nomeado?

O Google dá pistas preciosas. O Correio da Manhã garante que rebocaram, na Galiza, a viatura a Amílcar Augusto. Nenhum avatar teria necessidade de uma viatura para se fazer transportar a Santiago de Compostela.

Se o homem existe, é de aprofundar a pesquisa. Descobrimos então que Amílcar Augusto fora, em tempos, ministro — precisamente do Ambiente. E que, quando os jornalistas o interrogaram sobre o que sabia sobre a pasta do ambiente, deu esta resposta lapidar: “Não sei responder a essa pergunta.”
.
A verdade é que esta aparente falha de Amílcar Augusto — descobrimo-lo também — veio a ser compensada pelos vastos conhecimentos que veio a revelar na área dos fogos florestais: “Há pouco disse que poderia haver uma conjugação de factores, não excluo que tenha havido mão criminosa ou que tenha havido negligência, porque há muita gente que serviu nas ex-colónias e que inconscientemente levou armas ou granadas para casa.
.
Mas se o objectivo desta nomeação é proclamar que podemos dormir descansados porque temos um ministro que zela pelo ambiente, por que foi ele escolher Amílcar Augusto, quando o próprio reconhece que não é um especialista na área do ambiente, embora tenha dado inestimáveis contributos para a detecção das causas dos fogos florestais?

O Google dá-nos novas pistas. Segundo o Expresso [via O Jumento], “[n]o sector especula-se sobre a possibilidade de ter sido Tavares Moreira, enquanto porta-voz económico do PSD, a sugerir Theias ao primeiro-ministro para a pasta do Ambiente. Fonte social-democrata confirmou ao EXPRESSO que o nome do actual ministro do Ambiente foi efectivamente recomendado por Moreira”.

Ora “Tavares Moreira aparece associado às águas por ser o vice-presidente da Fomentinvest SGPS, empresa que congrega interesses que vão desde os empresários Ilídio Pinho e Horácio Roque, ao grupo Espírito Santo e às fundações do Oriente e Luso-Americana e o Banco Africano de Investimento. Presidida por Ângelo Correia, a Fomentinvest aposta em sectores como a saúde, energia, tratamento de resíduos, ambiente e tecnologias.

Está desvendado o mistério. Ficámos a saber que Amílcar Augusto existe, ficámos a saber que o próprio ministro Nunes Correia continua em funções. E ficámos a saber que, para presidir ao conselho consultivo do Instituto Regulador de Águas e Resíduos, foi escolhida uma personalidade de “reconhecido mérito (…) para o desempenho das funções inerentes ao cargo.”

37 comentários :

VR disse...

Brilhante a análise e a retrospectiva. Mas julgo que é injusta a análise feita a Nunes Correia, a quem terá sido sugerido o nome de Theias para o cargo (de carácter consultivo, diga-se, pois o senhor deverá estar à baira da aposentação). E isto na política sabe-se como as coisas são sempre relativas...

Anónimo disse...

Do Ministro (do ambiente)desaparecido: «desaparecido», para descansar do esforço desenvolvido para publicar em DR o «interesse público» que descobriu na projectada demolição do prédio Coutinho do seu parceiro socialista presidente da CM Viana do Castelo.
A bem da contenção do défice, a bem do interesse dos seus trezentos moradores que se opôem.
A irresponsabilidade de um ministro somada à irresponsabilidade de um autarca.
Nada a fazer, parece.

Anónimo disse...

Caro vr:


Nao e' por nada mas as funcoes de Theias sao "consultivamente" perigosas pois vai ser o cavalo de Troia que por via da "consulta" vai efectivamente regular as tarifas das aguas e residuos e assim definir o preco da privatizacao. Coisa pouca como se imagina...e os padrinhos de Theias serao certamente alheios a tudo isto. Descrente na seguranaca social, Nunes Correia esta' a tratar da reforma antecipada. Ganda Ministro, apoiante da iniciativa privada (a sua!).

Anónimo disse...

Hoje eu sou ministro e nomeio-te, amanhã tu és ministro e nomeias-me. É a regra de ouro. Dos bandidos, bem entendido.

Anónimo disse...

Mais um mistério para o Abrantes desvendar: por que razão o Ministério do Ambiente é aquele que mais dinheiro orçamentou em 2006 para pagar pareceres e consultas ? Responda quem souber....

Rui Martins disse...

Um autêntico Polvo que se move em torno do sector das águas, preparando-se para dominar (se não domina já) um dos sectores mais estratégicos da economia: a Água...

Estranha que Socrates tenha alinhado com estes compadrios, ele que até foi um bom ministro do Ambiente... Estará demasiado ocupado com a obsessão do deficit para dedicar atenção a estas questões?

Anónimo disse...

Pela qualidade do acto podemos avaliar a qualidade do Ministro.

Anónimo disse...

Esperem para quando o gajo começar a mandar as granadas.

Anónimo disse...

Esta coisa das águas ainda vai dar água pela barba...

Anónimo disse...

O Abrantes sabe do que fala...

Anónimo disse...

Triste prova de vida que um ministro tem de fazer.

Anónimo disse...

Pode-se dizer que é uma decisão REDONDA.

Anónimo disse...

são as theias que as águas tecem

Anónimo disse...

Um verdadeiro bloco central de interesses.

Anónimo disse...

Pela descredibilização definitiva da política de ambiente.

Anónimo disse...

À falta de melhor nomeia-se Theias.

Anónimo disse...

Um theias, 2 MP, 2 juízes, um administrador do Banco de Portugal, 1 diplomata, 1 farmacêutico, 1 administador da CP, 1 militar, tudo misturado: cocktail MIGUEL ABRANTES. Explosivo.

Anónimo disse...

O nosso deserto ambiental vai-se destapando.

Anónimo disse...

Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.

Anónimo disse...

Não falta aí um banco?

Anónimo disse...

O PSD não se revê na nomeação de qualquer pateta.

Anónimo disse...

Theiocracia, ambientocracia, negócios e dinheiro, muito dinheiro.

Anónimo disse...

Cheira-me a águas estagnadas.

Anónimo disse...

Theias e' o imposto revolucionario que vai substituir a taxa do carbono. Grande craneo o Ministro Nunes Correia!

Anónimo disse...

Quem é esse Ministro Nunes Correia ?

Anónimo disse...

O Ângelo Correia é primo do ministro Nunes Correia? Há aqui uma Correia a ligar muita coisa...

Anónimo disse...

O gajo nem se ouve e lá vai pondo as pedras nos lugares certos para o negócio do século.

Anónimo disse...

Pensei que o theias estava reformado.

1313 disse...

QUALIDADE DA ÁGUA DOS RIOS, AQUÍFEROS E PRAIAS DA REGIÃO CENTRO ESTÃO EM VIAS DE FICAR SEM CONTROLO

1) O Ministério do Ambiente Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional (MAOTDR) tutela as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR's).
2) Nos últimos 8 anos, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) sucedeu à Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território do Centro (DRAOTC), que sucedeu à Direcção Regional do Ambiente do Centro (DRAC) - organismos imutáveis na sua continuidade funcional.
3) Nos últimos 8 anos, a CCDRC (e organismos progenitores) teve 6 equipas de Presidentes e/ou Directores.
4) Até Agosto de 2005 a CCDRC mantinha ao serviço 69 avençados e recibos verdes que tem vindo entretanto a despedir sendo que os cerca de 10 únicos técnicos que fazem as análises de monitorização da qualidade da água em toda a Região Centro no laboratório da CCDRC acabarão os seus contratos precários de trabalho em 31 de Dezembro. O único técnico do quadro da CCDRC nesta área reformou-se este ano.

Anónimo disse...

Estes gajos são como as formiguinhas, estão sempre a amealhar.

Anónimo disse...

O Ângelo Correia e o BES tinham que andar metidos na moscambilha. Andam sempre. Fatal como o destino.

Anónimo disse...

Ambiente? Ambiente propícia para...

Anónimo disse...

O Ambiente a pedir sheltox !

Anónimo disse...

meter água ou dinheiro ao bolso ?

Anónimo disse...

É preocupante o que se esconde atrás da defesa do ambiente. O negócio da água é o maior negócio do país. Precisa-se de transparência e isso não se consegue colocando homens de mão dos grupos com interesses no sector.
Espera-se que o Sócrates esteja atento. Ele que conhece o sector não tem desculpa se for entregue o ouro ao bandido.

Anónimo disse...

O PSD não se revê na nomeação de qualquer pateta, tem de ser um pateta cavaquista.

Anónimo disse...

Anónimo Seg Dez 12, 12:20:58 AM


O problema não é o PSD. A questão porque mete muitos cifrões ultrapassa qualquer partido. É transversal...