quarta-feira, dezembro 29, 2010

WikiLeaks: e agora?

• João Pinto e Castro, Guerra e paz no Jardim do Éden digital:
    'A História sugere, pois, que, quando a informação é libertada, segue-se a disputa pelo seu controlo. A questão importante é o que se consegue fazer com essa informação e, desde logo, quem está em condições de fazer algo com ela. Quando se diz que vivemos na era da informação, isso significa antes de tudo que há informação a mais e capacidade a menos para interpretá-la e dotá-la de sentido. Nas palavras de T.S. Eliott: "Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?"

    Compreender uma determinada informação exige tempo, esforço e capacidade interpretativa, condições que por definição não existem quando constantemente somos bombardeados por alegados factos, dados e números. A má política, como o mau jornalismo, caracteriza-se hoje, acima de tudo, pela capacidade de nos confundir a capacidade de julgamento com meias-verdades descontextualizadas que desavergonhadamente exploram as limitações cognitivas do cidadão - não apenas as do ingénuo e iletrado, mas até as do mais culto e perspicaz.

    Somos assim alimentados quotidianamente por pedaços de informação avulsos, quantas vezes enquadrados em narrativas capciosas, interesseiras ou meramente imbecis. E pouco interessa que mais tarde eles sejam desmentidos, porque, como a sabedoria popular ensina e a neurociência demonstra, as primeiras impressões são as que perduram.

    Chegamos assim à constatação de que só a intermediação competente e responsável da imprensa nos permitirá tanto extrair o que há de bom como conjurar o que se afigura ameaçador neste universal desvendamento de todos os segredos, sejam eles públicos ou privados. Infelizmente, a digitalização da informação que impulsiona a transparência ameaça em simultâneo a sobrevivência dos jornais e revistas, que são precisamente os media mais susceptíveis de promoverem a reflexão sobre a informação revelada.

    Não devemos esperar que a disponibilização instantânea de um repositório de informação praticamente infinito sobre tudo o que sucede nos ofereça o Paraíso na Terra. Quando o acesso à informação em bruto se torna ilimitado, a batalha pelo controlo das mentes faz-se menos pela gestão dos segredos do que pelos processos de filtragem que condicionam o modo como a realidade é entendida. É aqui, portanto, que cabe focalizar as nossas atenções.'

3 comentários :

Anónimo disse...

As escutas com todas as conversas entre Vara e Sócrates vão parar ao Youtube em 2011?...Veja aqui a resposta...

http://sitiocomvistasobreacidade.blogs.sapo.pt/68962.html

Anónimo disse...

Não espanta que vão...

FAÇA O SEU PRÓPRIO FLUVIÁRIO SEM FAZER MUITA FORÇA disse...

Onde está a informação que perdemos no excesso

esse é o ponto...

quando a informação é tanta o interesse dado a cada pedaço será tendencialmente cada vez menor

banalizam-se os escândalos