domingo, janeiro 09, 2011

Como vai a banca do Reino Unido depois da intervenção do Estado?

A propósito da afirmação de Cavaco, no debate com Manuel Alegre, de que a intervenção do Estado já tinha permitido a recuperação da banca britânica, o nosso amigo e leitor Manuel G. enviou-nos — de Londres — uma análise da situação feita a partir do que dizem os jornais britânicos. Seria possível fazer o mesmo em relação à banca nacional a partir do que dizem os jornais portugueses?

Eis o texto de Manuel G., intitulado NOTA SOBRE A INTERVENÇÃO DO GOVERNO BRITÂNICO NO SECTOR FINANCEIRO (2007-2011):

Desde o Verão de 2007 que, face a inúmeras dificuldades sentidas pelo sector financeiro britânico, o Treasury tomou um conjunto de decisões para:
    - proteger os depositantes da situação de ausência de liquidez ou insolvência dos bancos;
    - manter a liquidez dos bancos, garantindo-lhes a capacidade para respeitar os seus compromissos e para poderem continuar a emprestar dinheiro entre si;
    - garantir que os bancos sistémicos tivessem capital suficiente para resistir a uma possível deterioração dos mercados financeiros;
    - encorajar os bancos a facultar crédito à economia real.
As acções do Treasury incluíram:
    - Recapitalização do Lloyds Banking Group e do Royal Bank of Scotland (em duas fases: Outubro de 2008 e Janeiro de 2009) através de um conjunto de transacções que levaram à aquisição de 83% das acções do segundo (correspondentes a 68 % dos direitos de voto) e 41% do primeiro (tanto das acções como dos direitos de voto). Para tal, foram investidos 65 mil milhões de libras.
    - Empréstimo ao Financial Services Compensation Scheme, garantindo os depósitos até 50 mil libras.
    - Empréstimo directo a bancos insolventes de forma a que pudessem garantir os depósitos acima de 50 mil libras, incluindo o London Scottish Bank, Dunfermline Building Society e os bancos islandeses (Heritable, Kaupthing Singer and Friedlander, e Landsbanki).
    - Nacionalização do Northern Rock¹ e do Bradford & Bingley, protegendo os depositantes e facilitando o cumprimento de todas as suas obrigações.
    - Criação do Special Liquidity Scheme em Abril 2008, aumentando a liquidez dos bancos britânicos.
    - Introdução do Credit Guarantee Scheme em Outubro de 2008, ajudando a restaurar a confiança dos investidores no financiamento bancário atraves da garantia de certas dívidas em troca de uma fee.
    - Criação do Asset Protection Scheme em Janeiro de 2009, para proteger os activos detidos pelos bancos.
Segundo um relatório de avaliação do National Audit Office – Maintaining the finantial stability of the UK banks: Update on the support schemes, datado de 15 de Dezembro de 2010 -, depois de alguns mecanismos de apoio terem expirado, de alguns empréstimos terem sido reembolsados, e de algumas garantias terem sido removidas -, a exposição dos contribuintes (i.e., o montante máximo que o Estado pode ser obrigado a cobrir se tudo corresse pelo pior) ascendia a 512 mil milhões de libras (ver tabela). Este valor, porém, pode vir a ser superior se forem necessárias intervenções futuras em nome da estabilidade do sistema financeiro.




O dinheiro directamente investido no sector financeiro – seja através de recapitalização, seja de empréstimos aos bancos – atinge, segundo o mesmo relatório, os 124 mil milhões. Para mais, o Estado paga 5 mil milhões de libras por ano só em juros para se financiar nos mercados financeiros para garantir o apoio continuado ao sector.

Existe a expectativa legítima que o contribuintes não tenham que cobrir, uma vez vendidos as partes que o Estado tem em seu poder e reembolsados os empréstimos, um valor significativo, mas a verdade é que o valor das acções do Lloyds e do Royal Bank of Scotland (cotados em bolsa) é intrinsecamente volátil², e qualquer derrapagem na gestão pode levar a que o Estado tenha que cobrir possíveis perdas futuras.

É discutível que a gestão deste processo tenha ocorrido de forma célere. Assim, prevê-se que o Northern Rock possa ser posto à venda em 2011 (preferencialmente no primeiro semestre, dependendo do interesse dos potenciais compradores), e o Estado britânico espera poder colocar o preço na fasquia do 1,5 mil milhões de libras (cf. Guardian). Isto significa que, três anos depois da sua nacionalização – completos no próximo mês de Fevereiro -, o banco ainda continua a pertencer na íntegra ao Estado britânico. Já a venda da parte que Estado britânico tem no Lloyds e no Royal Bank of Scotland está prevista ocorrer entre 2012 e 2014 (seguramente antes das próximas eleições legislativas – talvez a data da sua privatização seja mesmo condicionada pela data daquelas) - cf. Guardian.

No passado dia 12 de Novembro de 2010, a consultora PricewaterhouseCoopers estimava (cf. Guardian) que o Estado demorará pelo menos 7 anos a desfazer-se de todas as acções dos bancos onde tem hoje participações, enquanto que o supramencionado relatório do National Audit Office concluía que: “Taxpayers may need to pour billions more into the bailed out banks before the government can start to sell its shares in them”(cf. Guardian), uma vez que as reformas internacionais em curso a nível internacional sobre a regulação do sector bancário podem obrigar a que “as a major shareholder, the Treasury will be called upon to participate in further capital injections into the banks were they to be required” (p.9).

O valor de 512 mi milhões de exposição pública pode vir a ser superior, se forem necessárias intervenções futuras em nome da estabilidade do sistema financeiro.

____________
¹ O Northern Rock foi o primeiro banco nacionalizado em Fevereiro de 2008 com o custo de 29 mil milhões de libras. Posteriormente, em Outubro de 2009 (cf. Guardian), foi dividido em dois: um good bank financiado por depósitos e onde não estão dinheiros públicos, e um bad bank, que contem depósitos problemáticos e ainda um empréstimo público de 22 mil milhões de libras, e que foi unido às hipotecas do Bradford & Bingley, formando uma holding com o nome de UK Asset Resolution.

² Por exemplo, no dia 1 de Dezembro de 2010, as acções detidas pelo Estado valiam menos 12,5 mil milhões do que no momento em que foram adquiridas.

3 comentários :

tempus fugit à pressa disse...

O Northern Rock só em redução de funcionários re-estruturações e indemnizações custou muito mais do que 29 mil milhões

só os fundos de pensões que tinha sobre a sua alçada

muito pior que aquele império de jornais que nos anos 90 esbanjou os biliões que tinha nos fundos de pensões

a sub-orçamentação e a contabilidade criativa
não são invenção portuguesa
29 mil milhões

pois é como dizer que o UBS e o Banco Central na Suiça não perderam muitos do potencial acumulado por ditadores enterrados que já não o vão reclamar

felizmente o Northern e o Anglo-Irish tinham muito depósito destes
o que diminuiu as perdas
Havia um político português que tinha uns 3 milhões de contos no Ulster Bank
esperemos que ainda o tenha recuperado
ou mudado para outra conta

Anónimo disse...

Sim! Mas o Cavaco não lê jornais e o Lima não lê Inglês. Sendo a maior parte do xornalistas portugueses só lê os artigos a partir de traduções espanholas ou brasileiras. Como não havia!!!!
Mas, mesmo que existissem essas traduções, como não serviam os seus interesses, não eram fidedignos certamente. Basta ver a sabujice do Faria de Oliveira para perceber de que gente é que estamos a falar. Bom ano!!!

Zé da Minda disse...

Perante este textos dos jornais britânicos,chegamos todos à conclusão que Cavaco Silva,mentiu mais uma vez. Depois das Escutas, e das accções Bpn,temos esta, para para desculpar os senhores do Colarinho Laranja,no BPN. Este curriculum de mentiras,não foi superado pelo MNE do Iraque, que à primeira, foi logo com a NOSSA SENHORA...Os Urtigas da nossa Praça,destas coisas não falam...querem é dinheiro dos contribuintes para financiar os seus colégios, e mais alguma coisinha para o Vaticano. Se tivessem vontade de contribuir para o efectivo combate à pobreza, não tinham construido uma Capela em Fátima,que leva mais gente, do que 99% dos campos de futebol em Portugal,e que teve um custo superior a 30 milhões de Euros, para estar às "moscas" a maior parte do ano. Como se constata os Urtigas deste pais, em matéria de prioridades, não são exemplo para ninguem...O pouco que fazem em termos de Solidariedade é em grande parte à nossa custa e do Estado que eles hostilizam, para o pressionar a contribuir AINDA mais para este regabofe.À minha porta não venham mais cantar as Janeiras,pois para esse peditório já não dou...