segunda-feira, janeiro 10, 2011

Revisão da matéria dada — Cavaco no plano interno



Pensava eu que o presidente-candidato seria incapaz de me surpreender. Estava enganado. Cavaco conseguiu exceder as minhas piores expectativas. Para esta campanha vai ficar marcada com tinta indelével a história do BPN no plano interno e a dos mercados no plano internacional.

Recapitulemos a história do BPN:
    1. Cavaco Silva comprou acções a um euro. Nenhum mortal, português ou não, o conseguiria. Esse preço catita estava reservado aos accionistas de referência. Os tais que sacaram dinheiro dos depositantes e investidores para uma instituição-fantasma em Cabo Verde e provocaram um tal rombo financeiro que o Estado português ainda está a tentar compor a situação para evitar males maiores.

    2. Cavaco Silva não era um accionista de referência, isto é, comprou 100 mil euros em acções por intermédio dos seus amigos Oliveira Costa e, provavelmente, Dias Loureiro, os tais que assistiram ao duplo nascimento do professor pelo menos na vida política — primeiro como primeiro-ministro, depois como Presidente da República.

    3. Pelo seu perfil, Cavaco Silva não é distraído. Deve ter discutido longamente em família o investimento e a boa expectativa de lucro. Aliás, a sua filha acompanhou-o na operação financeira, fazendo um investimento ainda maior.

    4. Em dois anos, Cavaco Silva teve um rendimento de cerca de 140 por cento. De nada vale atirar poeira para os olhos e dizer que vendeu as acções ao preço de mercado. Na verdade, o segredo esteve na compra de favor. Além disso, a venda foi muito oportuna, aproveitando os tempos da mó de cima e revelando os dotes premonitórios de quem, de si mesmo, disse que raramente tem dúvidas e nunca se engana.

    Resta apenas o lamento de que Cavaco não tenha compartilhado estes dotes premonitórios com os portugueses, para evitar o buraco em que estamos metidos por causa do BPN.

    5. A reacção do presidente-candidato às críticas é um monumento ao cinismo. Desvia as atenções para a supervisão e, muito convenientemente, para quem já não pode defender-se porque ocupa um cargo em que se exige discrição.

    É claro que a táctica de Cavaco Silva é conhecida — critica os polícias que não evitaram o crime, mas poupa os infractores, que lhe deram dinheiro a ganhar e foram seus conselheiros de Estado.

    6. Às críticas e perguntas, Cavaco chama calúnias, usando a estratégia do polvo — lança muita tinta para criar a confusão. Pela minha parte, como cidadão e eleitor, estou pronto a retirar tudo o que disse, se Cavaco provar que, afinal, era um accionista de referência do BPN e tinha, portanto, o direito de comprar acções por um euro.

8 comentários :

Anónimo disse...

Mas tem a certeza que Cavaco comprou?

Anónimo disse...

Convem ainda lembrar que o mercado entre 2001 e 2002 estava a cair, e que só subiu ligeiramente em 2003.

Durante o prazo do investimento do cidadao (e familia cavaco), o BCP perdeu 50% de valor, o BPI e o BES pouco valorizaram.

Estranho conseguir mais valias de 140% num contexto de mercado destes.

Anónimo disse...

Eu acho de que a Dra. Maria José Morgado e a sua equipa especial deveria fazer um inquérito sobre este caso.

Anónimo disse...

O Miguel Abrante é um tipo simpático. Basta provar que Cavaco é um acionista de referencia e fica tudo bem?!!!

Não, caro Miguel, o buraco de 3 mil milhões que vamos ter todos de pagar tem como um dos seus principais responsáveis Cavaco Silva. Não sei se se recorda mas quer a investigação jornalistica da EXAME quer a investigação do BdP forma silenciadas e abortadas. E só o foram porque Cavaco, funcionário do BdP á época, tinha fortes relações com o BPN. António Marta foi pressionado para se calar e parar com as perguntas ao BPN, como ficamos a saber pelos depoimentos feitos na AR.

A factura está aí à vista de todos, graças a Cavaco Silva. Bem lhe podemos agradecer.

Portas e Travessas.sa disse...

A foto é para a fotografia - até parece aqueles guarda redes, que se mandam para o chão, quando bola sai perto da linha de canto - vamos la vêr, é se o povo faz mais um contrato de 5 anos, com o despesismo daquele palacio...um balurdio. devia ser publicado, penso eu

Von disse...

Recuperemos o estado de algum país:

Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.
Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.
De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.
Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas…
Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».
Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?
É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos.
(Arnaldo Antunes, professor)

Anónimo disse...

Sócrates tem trabalhado para o país avance e, quer queiram quer não, ele tem avançado. É evidente que ganhar a 140% não ajuda nada a esse progresso.

Zé da Povoa disse...

Que culpa tem Socrates, de encontrar um pais com a riqueza mal distribuida? Quando tira regalias a muita gente como fez Sócrates,estamos a criar alavancas para acudirmos aos mais desfavorecidos de uma forma mais consistente. O que aconteceu? vieram para a rua, os que dizem defender os mais desfavorecidos, e os causadores desta situação,todos unidos no mesmo ideal... Repito, o fosso que existe,não é só porque o Mexia,e outros gestores ganham muito,é esssencialmente por termos uma classe que nada produz transacionavel,e que consome mais do que a riqueza produzida.Não entendo muito bem, que um casal mesmo desempregado numa aldeia com um pouco de terreno, não possa comer uma sopa à noite.Tenho familiares que pouco tocam no ordenado,pois criam galinhas,coelhos e porco, e cultivam legumes que dão para fazer a sopa todas os dias. Quem não puder fazer isso, por já ser idoso ou doente e sem suporte familiar, além da sua reforma a junta de freguesia terá que fazer esse levantamento e entrar em contacto com a organização contra a fome. È prioritário neste momento, a subsistência das pessoas,em detrimento das passeatas de autocarros,para consolidar o seu eleitorado na freguesia.Um Nota: Os bombeiros andam indignados pelo maior controle no serviço de ambulâncias. Pergunto: é legitimo cada portugues pagar 20 euros por ano para transporte de doentes nas ambulancias? Se no estado não há controle porque ha-de haver nos bombeiros?Gente que se permite construir quarteis de luxo, um até com projecto de Sisa Vieira? Tirando as ambulancias, o que faz esta gente no inverno? vão cortar mato? para evitar incêndios? vão fazer queimadas? Alguma vez abriram um caminho ou um aceiro para prevenir incêndios? não estão a coça-los nos quarteis. É um grande modo de vida para familias completas...Haja vergonha. Somos um pais pobre no meio dos ricos portanto a sobriedade,austeridade seriedade e trabalho deve ser o nosso lema.Tem que haver uma fiscalização em rede de tudo que vive à custa do estado.Aproveitemos a crise para para arrumarmos a casa.Todos os anos os bombeiros por distrito, devem publicitar o seu balanço para o povo ficar a saber como é gasto o dinheiro. Nda tenho de pessoal contra esta classe, mas confesso que esperava muito mais.