- ‘(…) Forte da sua firmeza e dos resultados preliminares da execução orçamental de 2010, Sócrates resolveu desafiar os mercados, e venceu. Não faltaram depois os despeitados a tentarem subestimar o êxito da operação, esquecendo o que eles próprios tinham dito antes (…).
Por iniciativa da Comissão Europeia, foi entretanto lançada a ideia de reforçar os meios e de ampliar o escopo do mecanismo europeu de ajuda financeira (…). Se tal se concretizar, a resistência portuguesa pode ter também marcado um ponto de viragem na resposta europeia à ameaça de crise da dívida dos países periféricos, e do próprio euro.
(…) Não pode haver ilusões sobre o impacto negativo da instabilidade e da incerteza política sobre a credibilidade da consolidação orçamental. Como referia ontem o Financial Times, citando um operador financeiro a propósito dos riscos da própria Bélgica (agora também colocada na mira dos mercados e sob impasse governativo desde as eleições de Junho passado), "chega o momento em que os mercados desejam mais estabilidade política" (…).
Ora, entre nós é notório que a nova liderança do PSD aposta na incapacidade do Governo para endireitar as contas públicas e no consequente recurso ao FMI, para lhe abrir as portas do poder. Essa estratégia é clara desde Agosto do ano passado, quando Passos Coelho exigiu condições impossíveis de cumprir por parte do Governo, para poder apoiar o orçamento para 2011. Durante meses, o PSD manteve uma deliberada dúvida sobre a aprovação do orçamento, no final obtida a troco de cedências do Governo que tornam muito mais dura a pretendida redução do défice. A prolongada dúvida sobre o desenlace orçamental relativo a 2011 foi mais nociva para a confiança dos mercados internacionais do que a própria incerteza sobre a consecução das metas orçamentais em 2010.
Para agravar tudo, nas vésperas da crucial emissão da semana passada, quando a pressão dos mercados estava no auge e quase todos jogavam no recurso à ajuda externa, via EU e FMI, o líder do PSD veio atirar petróleo para a fogueira, declarando publicamente a inevitabilidade de uma crise política caso tal se verificasse. Dificilmente se poderia fazer melhor para dificultar ainda mais a situação e para fazer naufragar a operação. (Para piorar as coisas, Cavaco Silva, na qualidade de candidato presidencial e de provável sucessor de si mesmo em Belém, entendeu também aventar a hipótese de uma "grave crise política", sem contextualizar tal eventualidade. Foi um duplo passo em falso, primeiro porque não contribuiu para poupar o país a uma humilhação, segundo porque se deixou identificar com a posição do PSD.)(…)’
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