domingo, janeiro 30, 2011

NIMBY (‘not in my back yard’)

• João Cardoso Rosas, NIMBY:
    O conceito NIMBY (‘not in my back yard’) foi criado no âmbito das questões urbanísticas e ambientais. Ele refere-se aos casos em que as mesmas populações que favorecem um determinado projecto – uma fábrica, um aterro sanitário, etc. – não estão dispostas a aceitá-lo, por assim dizer, no seu quintal.

    Ora, este mesmo conceito pode ser aplicado a uma grande parte das reacções adversas às medidas de austeridade em curso. São muitas vezes aqueles que mais criticam a "gordura" do Estado e preconizam o seu "emagrecimento" que, quando confrontados com o facto da austeridade no seu próprio quintal, reagem com maior violência.

    Os magistrados judiciais, geralmente muito críticos do funcionamento do Estado (mas não do da magistratura judicial...), moveram mundos e fundos para evitar que lhes fossem aplicadas medidas especiais de austeridade. Note-se que essas medidas incidiam sobre privilégios especiais aos quais não têm acesso, por exemplo, os médicos que trabalham em exclusividade no SNS. Tratava-se, portanto, de medidas justas.

    O PSD, que é parceiro do Governo na austeridade - e ainda pede mais do que aquilo que o Governo faz -, apressou-se logo a ajudar os juízes, tal como se apressa a ajudar outros protestos anti-austeridade quando isso lhe é politicamente vantajoso. Algo de semelhante se podia dizer do CDS.

    Os professores decidiram impugnar os seus cortes salariais e encher os tribunais de providências cautelares. Parecem não importar-se muito com outros cortes na despesa do Estado, mas consideram uma espécie de retrocesso civilizacional que os seus salários sejam reduzidos em 5 ou 10%.

    Esta semana, quem gritou mais alto foram os directores, professores e pais dos colégios privados com contrato de associação. Há zonas do país em que as escolas públicas têm cada vez menos alunos e estão a funcionar muito abaixo da sua capacidade mas, ainda assim, foram mantidos estes contratos com colégios privados e com níveis de financiamento altíssimos. Alguns dos intervenientes nesta polémica são fortemente contra o papel do Estado na sociedade, contra tudo o que é público, exceptuando os dinheiros públicos que eles próprios recebem.

    Até os responsáveis da hierarquia da Igreja vieram já clamar contra o Governo, interpretando cortes orçamentais como uma espécie de perseguição religiosa. Há muita gente na Igreja que tecia loas ao Governo do eng.º Sócrates quando o dinheiro dos contribuintes fluía, mas que agora só tece críticas. Esperava-se melhor dos nossos bispos.

    Mas enfim, esta é a essência do conceito NIMBY: recusar liminarmente aquilo que afecta negativamente os nossos interesses particulares, embora se defenda isso mesmo em abstracto, ou quando está apenas em causa o quintal dos outros.

1 comentário :

Zé da Povoa disse...

A direita não tem valores. São uns patriotas de caca. Querem sol na eira e chuva no nabal,para chegar ao poder. Marcelo continua a "clarificar, o que PPCoelho quiz dizer. O caso do fecho, ou venda das Ep, é grave,pois a entrega a privados vai agravar a vida dos portugueses. Aviso,nós não estamos dispostos a aceitar isso.Sabemos muito bem ao que eles vão, e o que procuram, portanto...