segunda-feira, janeiro 03, 2011

Os velhos dos marretas, agora, são três


O fim do ano excitou os comentadores da nossa praça, que resolveram de repente explicar ao povo distraído o que era a crise e como se devia resolver. Como seria de esperar, brotaram por aqui e por ali maravilhas teóricas. Duas especialmente me espantaram (e não me espanto com facilidade). A primeira foi de João César das Neves, que se excedeu em extravagância e em génio, no seu famoso (e famigerado) sermão do DN. A segunda foi de Helena Matos, que publicou neste jornal uma interpretação da história nunca dantes vista ou pressentida. As cabeças, como se vê, funcionam. Talvez não funcionem muito bem. De qualquer maneira, não deixa de ser curioso observar o resultado. Portugal está a mudar.

João César das Neves, por exemplo, pensa audaciosamente que o mal do país "(que aboliu a pena de morte e criou o banco central antes da Europa)" "nunca esteve na modernização". "O mal", o verdadeiro mal, esteve sempre "na qualidade dos nossos "modernizadores". Basta pensar na "podridão do Liberalismo" e na "canalhice da República", que, em conjunto, duraram mais de um século e acabaram num "fiasco". Felizmente, depois veio Salazar, que nos transformou (assegura ele) num "país seguro, estável e progressivo" e permitiu à "revolução de Abril" conseguir "um regime aberto, pacífico e dinâmico". Só que, há 15 anos (a seguir a Cavaco, como é óbvio), surgiu (com o PS) a "terrível tentação da facilidade" e tudo se estragou. Mas tudo se pode ainda arranjar depressa, se pararmos com "tretas", e conseguirmos subir "a pulso" o "penhasco" onde paira a "modernidade". João César das Neves garante que sim.

Helena Matos vai mais longe ou provavelmente mais perto. Para ela, a origem da presente desgraça é a "geração de 60", ou seja, a geração daqueles que eram jovens por volta dessa "década ícone" e que irresponsavelmente construíram "o mundo imaginário em que vivemos". E não se limitaram a isso: dantes culpavam o pai, a mãe, o modelo de família, o capitalismo da pobreza e o sistema de guerras (?); agora, por natureza, educação e hábito, continuam a culpar a humanidade inteira, principalmente para esconder de Portugal o seu falhanço. Menos de Helena Matos, claro, que lhes diz de dedo esticado e com uma enorme ironia queiroziana: "Falharam, meninos!". Falharam e acabaram também com a "esperança" dos mais novos. José César das Neves, pelo menos, não é tão drástico. Com a mesma crise de nervos, lá nos promete que a distância até ao cimo do "penhasco da modernidade" já "não é longa".
Vasco Pulido Valente
"Comentadores com uma crise de nervos", Público, 2 Jan 11

2 comentários :

Anónimo disse...

um trogolodita, uma indigente de espírito e um bêbado com intermitências de lucidez, todos candidatos a presidente de junta.

Anónimo disse...

E o documentário-folhetim da SEDES que passou ontem na RTP1 - só opiniões d' "os SEDES" - zero palavras sobre a corrupção dos subsídios europeus do tempo do Cavaco e zero palavras sobre o BPN.