segunda-feira, janeiro 17, 2011

Quebra-cabeças

      I

      À «cooperação estratégica» seguiu-se uma intervenção despudorada na vida partidária – Cavaco fez mover os seus valetes dentro do PSD e colocou na liderança desse partido o seu pálido, mas fiel, reflexo feminino. A partir daí, fez de Oposição ao Governo por interposta pessoa, de forma mascarada e furtiva, mas, contudo, indisfarçável. Belém dava o mote, até os slogans, e Ferreira Leite recitava o guião com a imaginação política que Deus lhe terá ofertado num momento especialmente avaro. Os resultados desta prática concertada são conhecidos: Sócrates vitimizou-se até à exaustão acabando por se robustecer com a compungente disfunção eréctil da sua Oposição.

      Antes das Legislativas de 2009, Cavaco, mais uma vez, inverteu a táctica sem o mínimo de consideração pelos infelizes que escolheram, em exclusivo, o itinerário político de serem seus subalternos – percebeu que uma crise antes das presidenciais poderia prejudicá-lo e ressuscitou a sua «cooperação estratégica».

      II

      Cavaco provou que tem uma interpretação muito peculiar da sua honestidade política no caso das escutas do Verão de 2009. Tudo se terá iniciado com a revelação de que um dos seus predilectos teria facultado informações a um jornalista que indiciariam escutas ilegais aos telefones da presidência, deduzia-se sem grande esforço, efectuadas por gente ligada ao Governo. Porém, cedo se percebeu que tudo não passava de uma «inventona» ameninada com o intuito óbvio de reverter as sondagens a poucos meses das Legislativas. A questão seria de uma gravidade insuperável em qualquer democracia normal. Como é costume, Cavaco remeteu-se a um silêncio pesadíssimo fingindo não dar importância ao facto. Após as eleições de Setembro de 2009, foi forçado a fazer uma alocução ao País. Nada explicou – pelo contrário, enredou-se em novas e bizarras teorias de conspiração alegando suspeitas pueris de que também os e-mails de Belém estariam sobre vigilância. Este imbróglio arredaria da vida política os seus protagonistas se Portugal não fosse aquilo que é.

Quem escreveu os dois nacos de prosa acima reproduzidos:
    • José Junqueiro, em notas para a intervenção no comício de apoio a Manuel Alegre em Viseu?
    • Comissão Política do PCP, num comunicado emitido após análise da primeira semana de campanha?
    • Colectivo Abrantes, em post redigido após o habitual briefing matinal (com todos os jeitos do assessor n.º 33)?
    • Ana Drago, na sequência da leitura atenta do “livro vermelho” de Canotilho e Vital Moreira?
    • Passos Coelho, num ataque de raiva, após Cavaco o ter tratado no comício de Vila Real por “Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Vila Real”, a fazer lembrar a alusão ao “outro partido”, quando se referia ao CDS-PP nas eleições de 2006?
    • Outro distinto apoiante de Passos Coelho, revelando assim que as hostes passistas só a tiro é que votarão em Cavaco?

Saiba a resposta aqui.

2 comentários :

Anónimo disse...

é um anúncio de oferta de serviços. se dão muita guita o papagaio ainda levam com ele em cima. não imaginam o que aquele umbigo faz por penacho & trocados.

Anónimo disse...

é tudo verdade, verdadinha, só que o Sócratezinho se pôe mesmo a jeitinho, não é?