Entre a insensibilidade e a irresponsabilidade, uma certeza: cabe aos pobres reduzir as emissões de carbono

Filhos de magnatas apanhados em flagrante

Não se trata, em rigor, de uma entrevista. Marco António debita como se estivesse a escrever o editorial do boletim da Câmara de Gaia. O blogue do grupo Lena limita-se a intercalar umas deixas para não tornar a coisa tão maçuda. Ora, não podendo o PSD abrir o jogo e mostrar quais são as suas propostas para o país, é-nos dada uma mistela que exige alguma disciplina para levar a empreitada até ao fim.

Mas eu li a “entrevista” — em que salta à vista a obsessão de desmantelar o Estado Social. Entre outras pérolas ininteligíveis, o vice-presidente do PSD afirma que “a falta de uma política reformista e sustentável das políticas sociais leva a que o PS tenha procurado industrializar [sic] o conceito de apoio social que hoje tem obrigatoriamente de retirar aos portugueses por falta de sustentabilidade.”

Não sendo possível comentar todos os dislates (ou será apenas falta de pudor?), fixemo-nos na questão do passe social. Diz o fabuloso Marco António:

‘Dentro da nossa lógica social-democrata [sic], que é a de que a prestação do serviço público deve ser adequada à condição económica e social de cada um. Não podemos querer que o filho de um magnata pague o mesmo pelo passe social do que o filho de um trabalhador que tem o ordenado mínimo nacional.’

Apesar de ser autarca, o vice-presidente do PSD ainda não percebeu que o passe social não pode ser entendido apenas como um apoio social. Tem também o propósito de incentivar o uso do transporte público com vista a um mais adequado ordenamento das cidades e à melhoria da qualidade ambiental. Fica-se a saber, através do fabuloso Marco António, que só os pobres é que devem contribuir para reduzir as emissões de carbono.

Destruir o passe social não revela apenas a insensibilidade, é também uma enorme irresponsabilidade.

Como em tudo em que o PSD mete os dentes de fora, Marco António não diz o essencial: a partir de que rendimento é que a São Caetano quer cortar o passe social?