Pistas para uma narrativa

Vasco Pulido Valente dá pistas para a oposição ensaiar uma outra narrativa: Sócrates é um ditador. É preciso provas? Só não vê quem não quer quem é este homem que nos atormenta:

• “Acumulou o Governo com a direcção do PS”, procedendo, como se sabe, de modo diverso do que fizeram anteriores primeiros-ministros como Soares, Sá Carneiro, Balsemão, Cavaco, Guterres e Barroso, que mal foram nomeados abandonaram todos os cargos partidários;
• “centralizou as polícias sob a sua autoridade directa”, supõe-se que para dirigir em pessoa a repressão sobre as massas trabalhadoras, em especial as dolorosas cargas policiais no Gambrinus;
• “arranjou uma sucessão de «escândalos»”, convindo sublinhar que “[a]s guerras de Sócrates com a televisão e os jornais também ficaram famosas.”

Como se tudo isto não bastasse, Vasco Pulido Valente recorda-nos que os primeiros-ministros tinham “sessões semanais” na Assembleia da República e que Sócrates não descansou enquanto não as passou a quinzenais. Um pequeno lapso do nosso comentador enjaulado num T3 de Benfica: antes, os “debates parlamentares” eram mensais (e não semanais) e foi o PS que propôs e aprovou a mudança do regimento. Mas estes pormenores não estragam certamente uma boa narrativa.