João Lopes (“literalmente uma das poucas formas de vida inteligente que resta nos media em Portugal”):
“(…) 2. Esta perspectiva — Sócrates capitulou... — é tanto mais interessante quanto ilustra, de forma muito directa e reveladora, o processo de delirante fulanização com que, em quase todos os espaços dos meios de comunicação (com especial intensidade nas televisões), tem sido tratada a gestão-Sócrates. Há, por certo, diferenças significativas entre os vários meios de comunicação. Em todo o caso, por todos eles perpassa quase sempre uma crença banalmente teológica: se não existir mais nada para descrever ou explicar os nossos problemas, use-se a palavra "sócrates".
(…) 4. Claro que quase não há espaços de reflexão para lidar com tudo isto. Desde logo, porque vivemos dominados por uma ideologia televisiva que reduz o mundo a "facções". De acordo com tal ideologia, reconhecer as agressões mediáticas contra Santana Lopes era o mesmo que ter um cargo secreto no seu governo. Pela mesma lógica, sugerir apenas que Sócrates tem sido insultado e difamado para além de qualquer minimalismo humano e humanista, só pode significar uma fidelidade beata a todas as medidas de todos os departamentos do governo do Partido Socialista... Não há razoabilidade democrática para lidar com isto. E não tenhamos dúvidas: este é um problema cultural gravíssimo, todos os dias ampliado pelos automatismos da Net (em particular da blogosfera), que está a minar todos os nossos laços sociais.
(…) 8. Tudo isto adquire uma dimensão de ópera bufa quando vemos um político, desta vez Pedro Passos Coelho, a oferecer-nos o nosso boletim de psicologia aplicada, garantindo-nos que este pedido de ajuda nos fará viver "com menos angústia". Há, de facto, qualquer coisa de absurdo neste desvio simbólico que, depois de meses e meses de demonização irredutível do primeiro-ministro, nos vem dizer que é possível estar a seu lado, não por razões políticas, mas para não agravar a nossa... angústia. (…)”
“(…) 2. Esta perspectiva — Sócrates capitulou... — é tanto mais interessante quanto ilustra, de forma muito directa e reveladora, o processo de delirante fulanização com que, em quase todos os espaços dos meios de comunicação (com especial intensidade nas televisões), tem sido tratada a gestão-Sócrates. Há, por certo, diferenças significativas entre os vários meios de comunicação. Em todo o caso, por todos eles perpassa quase sempre uma crença banalmente teológica: se não existir mais nada para descrever ou explicar os nossos problemas, use-se a palavra "sócrates".
(…) 4. Claro que quase não há espaços de reflexão para lidar com tudo isto. Desde logo, porque vivemos dominados por uma ideologia televisiva que reduz o mundo a "facções". De acordo com tal ideologia, reconhecer as agressões mediáticas contra Santana Lopes era o mesmo que ter um cargo secreto no seu governo. Pela mesma lógica, sugerir apenas que Sócrates tem sido insultado e difamado para além de qualquer minimalismo humano e humanista, só pode significar uma fidelidade beata a todas as medidas de todos os departamentos do governo do Partido Socialista... Não há razoabilidade democrática para lidar com isto. E não tenhamos dúvidas: este é um problema cultural gravíssimo, todos os dias ampliado pelos automatismos da Net (em particular da blogosfera), que está a minar todos os nossos laços sociais.
(…) 8. Tudo isto adquire uma dimensão de ópera bufa quando vemos um político, desta vez Pedro Passos Coelho, a oferecer-nos o nosso boletim de psicologia aplicada, garantindo-nos que este pedido de ajuda nos fará viver "com menos angústia". Há, de facto, qualquer coisa de absurdo neste desvio simbólico que, depois de meses e meses de demonização irredutível do primeiro-ministro, nos vem dizer que é possível estar a seu lado, não por razões políticas, mas para não agravar a nossa... angústia. (…)”
3 comentários :
Este senhor, é um GRANDE SENHOR.Está tudo dito de forma serena e cristalina, como ele, há muito poucos que escrevam a palavra com tanta clarividencia e honestidade.
Pensar...é um exercicio que os media, jornalistas e politologos deixaram de fazer. Salivam e rosnam. Com ódio irracional.Tomam partido e deleitam-se num narcisismo orgastico olhando-se ao espelho. E pensar eu q ja fiz parte da matilha! As excepçoes, brilhantes como o João Lopes tb existem, felizmente.A camopanha de imbecializaçao mediatica acabará por virar-se contra eles.
Já nem tentam disfarçar. E quando o odio a Socrates é de tal forma obvio e enraivecido leva-me a pensar que se calhar o Socrates mexeu com bem mais interesses do que aqueles que se sabe.É que com tanta gente contra ele , uma pessoa começa a desconfiar...
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