- ‘Diga-se, sem reservas nem ironia: seria difícil encontrar um secretário de Estado da Cultura tão perfeitamente identificado com o mundo cultural como Francisco José Viegas. O seu currículo é o do perfeito agente cultural: o indivíduo que tudo converte à linguagem da cultura e a amplifica nas suas saborosas astúcias. Escritor, o seu mundo é o da cultura literária; editor, a sua tarefa é a cultura editorial; diretor de uma revista literária, a cultura foi no entanto o seu verdadeiro sacerdócio; comentador de futebol, ele responde às exigências profanas da cultura futebolística; homem de gostos mundanos, sejam eles a gastronomia regional, os vinhos ou os charutos, ele inscreve-os na ordem dos requintados interesses culturais. Eis alguém que faz a síntese total com que sempre sonharam os espíritos iluminados pela chama da cultura. A sua vocação de agente cultural é um percurso de santidade: é uma capacidade pacificadora que consiste não apenas em conviver com tudo, mas em fazer com que tudo conviva com tudo, sem exclusões nem conflitos. Os ofícios sacerdotais da cultura, tal como FJV sempre os exerceu, são uma esponja que apaga rugosidades e anula asperezas: constroem o consenso, exaltam o conformismo, glorificam uma arte de viver que sabe aderir, em cada momento, à superfície lisa do tempo. A cultura — sabe muito bem este mestre dela, agora secretário de Estado — rege-se pelo princípio da conformidade. Com os seus mecanismos bem afinados, a cultura nada tem de irredutível, de resistente. É uma matéria plástica, pronta a ser moldada, convertida, traficada — tarefas que os mais dotados agentes culturais exercem com zelo. O poder da cultura é mimético e extensivo. Sem reservas nem ironia: quem agora acedeu a secretário de Estado da Cultura sabe, das argúcias culturais, tudo o que há a saber.’
domingo, junho 26, 2011
Das argúcias culturais
António Guerreiro escreve na revista Atual do Expresso sobre o novo secretário de Estado da Cultura:
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5 comentários :
cereja no topo, agora a secretaria paga-lhe as perdizes de esbeche, os tintóis, os charutos e os bilhetes prá bola e ainda faz uns gratificados na tvi a bem da cultura nacional. se disfarçassem um pouco, não entravam em desgraça tão cedo.
Tal é diversidade cultural que engole... que não vai haver romaria,futebois,casamentos,ajuntamentos gastronomicais e muito mais, onde não esteja presente o maior do voluntariado da degustação (à borla, topas?) nacional.
A ver vamos se apesar dos pergaminhos não se estampa mais depressa do que é esperado….
Apesar de tudo confio que a cultura vai ser tratada melhor do que o foi com a Gabriela e com a Isabel
Como diria o 'homem do leme', nada 'pode falhar', tal a perfeição da escolha!
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