quarta-feira, outubro 05, 2011

"ECT concentra-se nos malefícios da TV pública, poupando os privados às suas investidas"


• António Pedro Vasconcelos, RTP - o ódio de estimação de Cintra Torres [hoje no Público]:
    'Na sua coluna Olho Vivo, Eduardo Cintra Torres [ECT] resolveu meter-se comigo de forma torpe a propósito de uma gala com que a RTP decidiu homenagear alguns grandes artistas desaparecidos e em que aceitei participar. Se me decido a dar-lhe troco é porque, além de ter produzido mentiras e aleivosias a meu respeito que não quero deixar passar em silêncio, e de ter insultado de forma vil um grande profissional da RTP e um pioneiro da TV em Portugal, Luís Andrade, ECT lança, mais uma vez, a confusão nos leitores manipulando estatísticas e não distinguindo entre as razões para a existência de um serviço público de TV (SPT) e a programação casuística da estação, que deve ser, essa sim, amplamente questionada, debatida e escrutinada.

    A RTP tornou-se o "ódio de estimação" de ECT, sobretudo desde que deixou de ser consultor da casa para "projectos de ficção e documentários" (sem que nada o qualificasse para isso), e, ainda mais, quando percebeu que a RTP2 tinha abandonado a ideia peregrina que ele "vendera" a Morais Sarmento, de que se deveria transformar numa TV ao serviço do que ele chama a "sociedade civil" - experiência que foi, como não podia deixar de ser, um fracasso. Desde essa altura, a RTP passou a ser a sua bête noire, sobre a qual exerce semanalmente a sua frustração. ECT passou a ter um objectivo na vida: provar aos portugueses que aquele monstro "despesista" deve ser transformado (vá lá saber-se porquê?!) num "serviço público de conteúdos", cuja produção deve ser entregue a privados, sem informação e com um só canal nacional! Tudo o que escreve (e este artigo é o espelho disso) está inquinado por um ódio cego ao "monstro", uma espécie de despeito que lhe tolda a lucidez e compromete a seriedade dos argumentos.

    Mas vamos aos "factos". ECT diz-que-eu-disse que a gala em que me pediram para fazer uma homenagem a Milú era "maravilhosa". Não disse. Disse apenas que a preservação da memória e a passagem do testemunho entre gerações era uma das missões da RTP, que não se podia perder. A seguir, diz que eu "insultei" Rui Moreira num programa da RTPN, o Trio de Ataque. Mentira. Rui Moreira sentiu-se incomodado por eu ter falado nas escutas do Apito Dourado, que envolviam alguns dos dirigentes do seu clube, e que haviam sido largamente difundidas na imprensa e no YouTube. E decidiu sair do estúdio, não sem, entretanto, ter feito tudo o que estava ao seu alcance para tentar que eu fosse expulso do programa.

    Finalmente, ECT decidiu aludir, de forma reles, à minha compleição física, para ironizar sobre o meu genuíno propósito de combater, por todos os meios legítimos, a promessa do Governo de privatizar a RTP1, que considero um ataque lesivo do interesse nacional, um compromisso eleitoral irresponsável e suspeito. É o meu direito de cidadão denunciar este atentado, cujas consequências sociais, culturais e económicas (sem a RTP1, os custos dos outros canais seriam incalculáveis), além das consequências financeiras para os canais comerciais, seriam dramáticas para o país. Fiz o mesmo, há uns anos, quando Morais Sarmento lançou a mesma ideia, mas teve a seriedade de recuar em toda a linha quando percebeu a gravidade do que se propunha fazer.

    ECT fez parte, na altura, da comissão que aconselhou o ministro de Durão Barroso, como agora aceitou fazer parte da que irá "aconselhar" o ministro Relvas - uma comissão onde, independentemente da seriedade de alguns membros, além dele e de Felisbela Lopes, ninguém mais tem qualquer reflexão produzida sobre o tema nem autoridade reconhecida para opinar sobre uma questão de tão magna importância ou para decidir sobre matérias que desconhece. Em ambos os casos, ECT não hesitou em participar numa tarefa onde os dados estavam lançados, onde o ministro todos os dias interfere na gestão da empresa e onde a maioria dos seus pares tem tantos conhecimentos da matéria como eu de Física Quântica.

    ECT escreveu há dias um livrinho, A Televisão e o Serviço Público, muito divulgado nas paragens de autocarro, que é um péssimo serviço ao país: ECT concentra-se nos malefícios da TV pública, poupando os privados às suas investidas; não analisa os efeitos catastróficos, noutros países, da posse das TV comerciais por grandes grupos de comunicação; não se interroga por que razão a privatização de um canal público não faz parte das exigências da troika, nem está na agenda da UE, nem de nenhum país do mundo; não compara os custos da RTP nem o número de funcionários com as suas congéneres, não questiona os motivos por que a RTP se endividou, não pede responsabilidades a Cavaco nem a Guterres, não identifica as razões das suas insuficiências funcionais (em termos de grelha e de informação), que têm a ver fundamentalmente com a falta de independência política e económica das administrações, com a inoperância do Conselho de Opinião, com as escolhas, por vezes de conveniência política, dos seus quadros - e não, como ele gosta de se convencer (e de nos convencer), pela perversidade do SPT e dos seus profissionais. Tal como faz semanalmente na sua coluna, os números e as estatísticas servem a ECT para provar a sua tese sobre o que considera o anacronismo do modelo histórico da TV pública, e não para se interrogar sobre as razões pelas quais as TV comerciais se impuseram na Europa, nem muito menos sobre os malefícios irreversíveis que causaram, nalguns casos, às nossas sociedades democráticas. Para um crítico, vá que não vá, para um professor universitário e conselheiro de ministros, é, no mínimo, grave.'

4 comentários :

Zé da Póvoa disse...

Aqui está uma guerra aberta entre dois subsidio-dependentes. Faz lembrar uma guerra entre porcos que disputam um lugar para poder comer na gamela!

Rosa disse...

Mesmo assim, acho o artigi esclarecedor...e útil. Dá que pensar...

Anónimo disse...

Este ECTorres não é a prenda que pretendia que os anúncios dos incêndios monopolizassem os noticiários da RTP, na esperança que alguns dos seus adorados pirómanos ainda não soubessem que estava na vez deles de incendiarem o País?

Boa rês...

Anónimo disse...

Depois do João Gonçalves ter arranjado tachito, sempre pensei que este Eduardo tb se safava.... mas lá tiveram de fazer o favor ao Duque....azar Eduardo!!! FIca para a próxima!!!!