sábado, novembro 12, 2011

"A pulsão autoritária que está sempre à espreita, ao virar da esquina"

• Pedro Adão e Silva, Um tecnocrata em cada esquina:
    ‘Esta semana assistimos a mais uma acto da tragédia europeia. À devastação económica, financeira e social, soma-se agora a devastação política, suspendendo constituições e abalando os alicerces em que assentam as democracias.

    A ilusão tecnocrática assenta no pressuposto de que só governos não sujeitos ao voto e às pressões partidárias são capazes de implementar as reformas necessárias (invariavelmente muito austeras). Tanto melhor se os governos tecnocráticos forem de salvação nacional (se incluírem todos os partidos do arco da governabilidade lideradas por um independente) – pois assim nenhum partido tem de assumir a responsabilidade pela impopularidade.

    Este caminho tem, contudo, riscos evidentes. Ao mesmo tempo que a convergência dos partidos centrais dispersa a responsabilização, potencia o crescimento dos partidos extremistas – que podem monopolizar a contestação –, secundariza um eixo central da democracia: o controlo do poder executivo pelo soberano, através de eleições.

    Pensar que vai ser possível resolver os problemas europeus penalizando moral e materialmente os cidadãos, libertando os executivos do controlo democrático e afastando os cidadãos do processo de decisão é uma ilusão, além do mais, muito perigosa. Um tecnocrata em cada governo é, no fundo, uma visão suavizada da pulsão autoritária que está sempre à espreita, ao virar da esquina.’

5 comentários :

Fernando Romano disse...

Uma questão muito oportuna. Especialmente para mim que, ultimamente, tenho defendendo essa do governo de salvação nacional. Dá para refletir sim senhor. Com muita atenção.

O que acontece, porém, nesta questão actual bem portuguesa, é que quanto a oposição... - que é dela?

Não pode um partido querer assumir o papel de oposição, ao mesmo tempo que apoia um programa da troika (de que foi subscritor), que não é o programa da troika, e um governo que mentiu ao povo e faz do programa da troika o que estamos a assistir, sendo também subscritor. E lembramo-nos muito bem porque caíu o governo de J.Sócrates. É bom não esquecer.

Porque assim ficamos com a ideia de que este governo tem razão em todas as acusações que vem fazendo aos anteriores governo e primeiro ministro. E eu penso que não tem. Nem este governo o justificou nem o maior partido da oposição se demarcou, preferindo encaixar todas as diatribes e calúnias.

É lógico que eu sinta, e muitos outros sintam, que estão a ser enganados tanto pelo governo como pela capitulação do maior partido da oposição.

Afinal... o que tem conseguido o maior partido da oposição? Nada! Nada! E, contudo, tem legimidade em todos os aspetos para exigir correções, e a não serem permitidas, pois então que vote contra o OE.

Porque esta subtileza de se escudarem com o "País" em abstrato só pode contribuir para lançar ainda mais o pânico nas massas populares, e ficarem quietas e mudas, aceitando esta "terapia de choque". Estará o maior partido da oposição aterrorizado?

Postas assim as coisas (não muito bem postas, reconheço), precisamos de saber se todos os partidos habituais no poder estão irmanados no mesmo objetivo de fazer o povo vergar a medidas a esmo contabilísticas, violentado as suas vidas, a sua dignidade e a sua cidadania para encher a barriga à "Nomenklatura" portuguesa instalada à volta das tetas da Vaca Nacional.

Mas a chmada de atenção para os perigos dos tais governos de salvação nacional é muito oportuna e dá que pensar.

Mas....

Fernando Romano disse...

Um esclarecimento: o voto de abstenção ao OE2012 é, para mim, uma forma de apoio ao programa do Governo.

Rabino disse...

Pedro Adão e Silva acertou na mouche.A estrategia de Seguro, vai levar-nos ao desastre. Ou se cumpre a troika,e sobre isto a extrema esquerda e o povo nada podem dizer,pois se o memorando da troika,é um facto, foi graças ao chumbo do Pec 4, onde a extrema esquerda esteve em grande parceria com a direita na defesa da classe operaria!Quanto ao povo foi informado a partir de S.Bento antes das eleiçoes,numa declaração convocada, para dizer ao Povo que os subsidios não eram retirados. .Espero que tanto a extrema esquerda e o povo se lembrem destas palavras de Socrates.A minha solidariedade para com todos aqueles,que ainda passados estes anos,não conhecem o PCP,Bloco e CGTP...

Ex comunista disse...

O Pcp E o Bloco,fazem lembrar aquelas mulheres lindas,(mas com merda na cabeça) que vão para Hollywood tentar o cinema e para conseguir os seus objectivos metem -se debaixo de tudo que cheire a poder...

Júlio de Matos disse...

Estou com o F. Romano. Um Governo de Salvação Nacional não tem que ser um governo tecnocrático, mas um Governo eminentemente político, ainda que de consenso multi-partidário. Aliás, julgo mesmo que, por respeito aos Cidadãos eleitores, qualquer Governo que exerça funções em tempo de acordos e compromissos internacionais, como o caso presente (e seria o mesmo em caso de Guerra, por exemplo), tem muito mais transparência se puder ser um Governo de ampla coligação, que naturalmente deverá ter um prazo idêntico ao da validade do compromisso.

Ou seja, em tempo de soberania nacional restringida, o equilíbrio democrático só poderá obter-se com um Executivo de representatividade nacional reforçada. Sem qualquer espécie de prejuízo para a normalidade constitucional, entenda-se.