- ‘O que é preciso fazer?
Primeiro, é preciso que haja um compromisso credível para travar o contágio a estados soberanos, bancos e mercados. Uma das hipóteses seria alargar o período de pagamento da dívida pública e dos défices orçamentais de Itália, Espanha e Bélgica, e garantir o seu financiamento em 2012 e 2013. Isso custaria cerca de um bilião de euros, valor quiçá insuficiente para evitar o contágio dada a sua dimensão actual. Os recursos necessários poderiam ser obtidos através da alavancagem do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira ou do apoio do Banco Central Europeu (BCE), ou ambos.
Neste caso, o primeiro assumiria o risco de perdas e o segundo asseguraria a liquidez. Na opinião de John Muelbauer, professor no Nuffield College, Oxford, as ‘eurobonds', ainda que limitadas, poderiam ser uma resposta viável a longo prazo.
Segundo, a zona euro precisa de políticas para o crescimento económico e o ajustamento. Acresce que estas não podem contemplar apenas o lado da oferta. A zona euro sofre hoje claramente de uma débil procura agregada. Além disso, os países mais vulneráveis só poderão recuperar quando restaurarem a sua competitividade externa. Sem isso, espera-os uma espiral descendente de austeridade orçamental, o enfraquecimento da procura, o aumento do desemprego e resultados orçamentais fracos aliados a mais austeridade. Nos anos que antecederam a crise, os excedentes financeiros das famílias na zona euro eram absorvidos pelos défices das sociedades não financeiras e, menor medida, pelos défices públicos. Com a crise instalada, os défices dessas sociedades desapareceram, ficando o fardo de apoiar a procura nas mãos dos governos. Para os défices orçamentais desaparecerem é preciso que as empresas e as famílias gastem mais, e para que isso aconteça é preciso adoptar políticas nesse sentido.
Terceiro, a zona euro também necessita de reformas a longo prazo para lidar com as suas fragilidades, embora estejam condenadas ao fracasso se a Alemanha continuar a insistir que o que realmente importa é a disciplina orçamental. Não foi a indisciplina orçamental que deu origem à crise. Maior peso teve a indisciplina financeira, e não só, do sector privado, nomeadamente dos credores nos países nucleares. Se a zona euro introduzisse reformas para melhorar o seu funcionamento no futuro, em vez de continuar a funcionar como uma máquina que fabrica insolvências financeiras e orçamentais nos países mais fracos, os níveis de confiança tenderiam a melhorar.’
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