- '(…) Relvas começou por anunciar que o seu Governo iria privatizar um dos canais generalistas da RTP com o intuito de reduzir os custos da empresa. Nomeou um grupo de trabalho (GT) de dez pessoas (dirigido por uma maioria de gente sem conhecimento na matéria) que, em part-time e pro bono, lhe iria dizer, em 60 dias, o que era o serviço público de TV! Mas, com um frenesim desabrido, não esperou pelo parecer do GT e ordenou, entretanto, à administração da RTP que lhe fizesse um plano de sustentabilidade, em que sacrificasse um dos canais generalistas, despedisse pessoas e reduzisse a despesa. Em poucos dias, o presidente entregou-lhe um relatório de três páginas e meia em que desmantelava a empresa à medida das pretensões do ministro e propunha, imagine-se, a partilha dos meios entre a RTP e o futuro comprador de um dos seus canais. Mas que mantinha a publicidade.
O plano, de tão absurdo, mereceu a reprovação unânime do Conselho de Opinião e, por sua vez, também não coincidia com as conclusões do GT, que, de tão insólitas, foram condenadas pela opinião pública, e desprezadas, suavemente, pelo próprio ministro. Entretanto, ao mesmo tempo que manifestava o seu amor pela RTP e o seu firme propósito de lhe reforçar a credibilidade, nomeadamente no plano internacional, o ministro anuncia, sem explicar o fundamento e ultrapassando o quadro legal e o contrato de concessão em vigor, que a RTP iria deixar de ter publicidade! Numa simples declaração, Relvas enterrou o plano da administração, que assentava na manutenção da publicidade no canal remanescente. Isso não impediu o ministro de anunciar que iria reconduzir o presidente da administração, a quem acabara de chumbar o plano de sustentabilidade, que havia sido feito à medida do que ele próprio havia exigido!
Chegados a este ponto, é altura de exigir ao ministro que se explique. O Parlamento tem a obrigação de o confrontar com as suas tergiversações, com as mudanças de opinião, com o desprezo pelos pareceres e planos que ele próprio encomendou, com as contradições entre objectivos e soluções, com a ausência de sustentabilidade das medidas que anuncia, com a falta de clareza sobre o que está por trás das decisões que toma dia-sim-dia-não.
O que quer o ministro? Entregar um canal da RTP a algum grupo de comunicação social? Qual? E é nacional ou estrangeiro? Se é isso, bastaria reabrir o concurso da TDT, onde, a partir de 26 de Abril do próximo ano, deixa de haver restrições tecnológicas para o aparecimento de um novo operador. O Plano Relvas, portanto, só pode esconder um negócio, cujos contornos são obscuros: a venda, não da licença, que, só por si, não vale nada, mas de activos, esses sim importantes, da RTP. Quais? Os arquivos? O nome? Uma parte dos equipamentos e das instalações? As audiências fidelizadas? Os meios, que, no plano proposto pela administração, seriam autonomizados e passariam a servir dois patrões concorrentes: a TV pública e o novo privado? E quanto arrecadaria o Governo por mais esta depredação? Quaisquer dos cenários seria motivo de escândalo, mas sobretudo de escárnio por parte dos nossos parceiros europeus e da própria União Europeia de Radiodifusão, pela sua estapafúrdia originalidade que nos iria cobrir de ridículo! Mas há mais: os actuais detentores das licenças, que há pouco tempo foram renovadas - a SIC e a TVI -, não iriam aceitar passivamente uma solução que, além de modificar as regras da concorrência a meio do jogo, representava uma vantagem competitiva para o novo operador, que seria certamente desaprovada pela Autoridade da Concorrência e pela própria UE.'
4 comentários :
O APV não tem qualquer credibilidade, embora até possa ter razão em alguns aspectos. O que o faz mover é a preocupação da perda de subsídios já que toda a vida viveu do que obtinha do Estado. De resto para fazer filmes que depois ninguém vê, a não ser a família e os amigos. Não tenho a menor simpatia por estes governantes, mas tudo o que seja acabar com a subsidio-dependência tem o meu acordo.
E que raio tem a questão da RTP a ver com os subsídios para cinema?
Além disso, ou o APV tem uma família muito grande e imensos amigos, ou vai mais gente ver os seus filmes (o último, por exemplo, teve mais de 100 mil espectadores).
O APV deve ser um dos realizadores de cinema em Portugal que mais espetadores teve nas salas. Que raio de comentário... Aliás, basta uma pequena pesquisa no google. Bem sei, bem sei! não se pode defender o serviço público... Mas, ó amigo lá acima, porque razão apenas os mercados, o Merkozy e os apaniguados do liberalismo terão de ter razão?
Porque a razão que lhes assiste esvazia os nossos bolsos e enche os deles. Aliás, segundo certos estercos que escrevem no SOL deviamos é estar caladinhos, que pobre só têm é de calar e comer e não têm direito á democracia, que é coisa de rico.
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