• Tomás Vasques, Um mar de enganos e o que veio depois…:
- ‘Este argumentário faz tábua rasa de duas situações. A primeira decorre da campanha eleitoral que se realizou após a aceitação do “memorando” da troika de credores. Passos Coelho, então líder do principal partido da oposição, conhecedor das dificuldades, apresentou-se às eleições como aquele que iria salvar os portugueses das garras dos que nos queriam afogar em sucessivos aumentos de impostos. Opção a que o PSD não recorreria, como foi bastas vezes anunciado. A memória dessa campanha eleitoral se não é um mar de rosas, é um mar de enganos: “A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento”; “O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento; “Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.o mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate.” Estes são meros exemplos do “discurso” com que o PSD enganou os portugueses e, sobretudo, num momento em que sabia muito bem que, caso fosse governo, iria fazer tudo ao contrário. Como fez durante o último ano. A Democracia não pode ser este mar de enganos, um salve-se quem puder para chegar ao poder.
A segunda situação prende-se com a “inevitabilidade” das medidas do governo. “Não há dinheiro” ou “não há outra solução” são as frases mais batidas nos panegíricos dos arautos de serviço. Metem para debaixo do tapete essa incomodidade da “repartição equilibrada dos sacrifícios” e que outros caminhos para o equilíbrio orçamental poderiam ser seguidos com menos custos para os portugueses mais desfavorecidos e, simultaneamente, com menores efeitos recessivos e melhores resultados orçamentais. Isto é sobejamente entendido quando, em tempos de miséria generalizada, as maiores fortunas continuam a aumentar sem que sobre elas recaia um qualquer imposto especial; ou quando os lucros das grandes empresas de energia sobem em flecha, caso da GALP, que subiu o lucro em 57% no primeiro semestre deste ano. No fundo, isto acontece porque a visão dos partidos que nos governam coincide com a visão da troika de credores: o mal das economias frágeis, como a nossa, reside apenas na falta de competitividade internacional. O que, descodificando, quer dizer: os trabalhadores têm direitos a mais, não se pode baixar salários, não se pode despedir, recebem indemnizações por tudo e por nada, e ainda por cima têm saúde e educação à borla. Assim, não há economia que resista. Dizem. Se rememorarmos as medidas deste governo durante o último ano facilmente as encaixaremos, uma a uma, nesta visão.'
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